O TÚNEL E O SINO DO CRASTO DE STO XISTO

Foto 1 - Castro e Aldeia de Sto Xisto visto de Sul

.O túnel e o sino do Crasto de Sto Xisto
.Fundação de Paredes de Gueda

O Castro de Sto Xisto ou "Povoado de Muro", lugar habitado e fortificado da Idade do Ferro com posterior ocupação romana, encontra-se localizado na Freguesia de Vilarinho dos Freires, Peso da Régua, mais precisamente no cume mais alto situado a norte da aldeia de Santo Xisto.

As gentes da terra chamam-lhe "Crasto" ou "Morro do Crasto".

Diz a lenda, narrada pelas vozes dos anciãos da freguesia, que no crasto existe um túnel que o liga até ao Rio Tanha e que era usado pelos seus habitantes para acederem ao rio para abastecimento de água à população. Segundo os mesmos anciãos, nesse túnel é possível ouvir o badalar de um sino.


Foto 2 e 3 - Castro de Sto Xisto visto de Sul

Como castro que se preze, este, o de Sto Xisto, também possui lá no alto a sua 'moira' - pena ou penha, que nem uma 'parafita'[1] natural, autêntica sentinela 'olhando' o universo que o rodeia, 360° plenos de um horizonte paradisíaco, digna morada de deuses.

Desconhece-se se a 'moira' se encontra encantada ou não, como geralmente o são todas as 'moiras' segundo a sabedoria do nosso Povo Ancestral. Queremos crer que sim.

Foto 4 - Moira do Castro de Sto Xisto

FUNDAÇÃO DE PAREDES DE GUEDA

Este local traz-nos ainda à memória o mítico e lendário fundador de Paredes de Gueda, Dom Gueda Guedeão, "O Velho", famoso cavaleiro medieval portucalense algures dos inícios da era de 1000, filho do moçárabe Mendo Gomes e de D. Eufrázia, irmã de Santo Eugénio, arcebispo de Toledo. Dele descendem o fundador da Igreja de São Miguel de Lobrigos, bem perto do Castro de Sto Xisto, Dom Gomes Mendes Guedeão, seu neto, governador que foi das terras de Celorico de Basto e de Panoias, e o filho deste, Egas Gomes Barroso, seu bisneto, a quem o rei Afonso I de Portugal doou Lobrigos apelidando-o de «alumpno e fideli vassalo meo».

Como diz a lenda, Dom Gueda fundou Paredes de Gueda, que o povo referência actualmente como Paredes e Presegueda, dois lugares de Vilarinho dos Freires.

E porquê nos veio à lembrança Dom Gueda?

Decerto, queremos crer, que Dom Gueda passou, esteve, pernoitou, ou até viveu no Castro de Sto Xisto. Por lá já tinham passado os nossos ancestrais da idade do ferro, celtas, romanos, muçulmanos, germânicos, cristãos… até que chegou, ou terá chegado, Dom Gueda, o mítico herói da Presegueda - Paredes de Gueda.
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Notas:
[1]
1.-

- pedra muito grande;
- monumento antigo construído com pedras grandes; monumento megalítico.

de 'perafita', do latim 'petra-' "pedra" + '-ficta' "esculpida"),

in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora, 2003-2021. [c.23.3.2021].

2.-
Significado de Perafita
Grande pedra ou antigo monumento megalítico. (Por 'pedra-ficta' = "pedra fixa")

in Lexico.pt - Dicionário de português online. [c.23.3.2021].
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Foto 1, 2 e 3 de © José Ferreira | Facebook, @jose.ferreira.754365 | Instagram, @photo_joseferr
Informante e texto: José Ferreira | Facebook, @jose.ferreira.754365 | Instagram, @photo_joseferr

Foto 4 de © Monteiro deQueiroz
Recolha e texto de Monteiro deQueiroz, [r.22.3.2021]
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LENDAS E NARRATIVAS D'OURO
COLECTÂNEA - RECOLHA

[ VILARINHO DOS FREIRES - SANTO XISTO - RIO TANHA - PAREDES DE GUEDA
- PRESEGUEDA - DOM GUEDA - CASTRO DE STO XISTO - MOIRA - POVOADO DE MURO - TÚNEL - MOUROS ]

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TRIBUNAL DAS AUDIÊNCIAS DO DIABO - RIO VAROSA


"Ponte do “Tribunal das Audiências do Diabo”

A ponte sobre o rio Varosa que liga Valdigem a Sande (concelho de Lamego) é conhecida pelo povo como o 'tribunal das audiências do diabo'.
Segundo se consta, este nome deve-se por outrora ter sido um local onde se faziam 'acertos de contas' entre homens desavindos. Esses acertos de contas estariam relacionados sobretudo a questões de honra e para que o bom nome fosse limpo."

Texto e Foto: © RuiJorgePires | Olhar D'Ouro | Facebook, @olhardouro, https://lamegoimage.blogspot.pt/, [21.3.2018]
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Recolha de Monteiro deQueiroz, [r.22.3.2021]
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[ VALDIGEM - SANDE ]

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A LENDA DO LAPADAS [III] Soneto para um mítico herói


LAPADAS

(Soneto para um mítico herói de Santa Marta de Penaguião)

Senhor de enorme força, talento às carradas...
As certeiras grossas lapas tinhas por fuzil.
E, por isso, te chamaram o Lapadas,
Luso-herói afrontador da corja vil!

Lá do alto dos penhascos do Marão,
Sobranceiros às terras de Santa Marta,
Distribuías, com vigor, lapada à farta...
Aos estrangeiros saqueadores do nosso pão!

Sentinela do nosso torrão, intrépido cuidador,
Ao indesejado intruso mostraste teu vigor...
Guerreiro atento, soberano guardião!

Os vindouros não olvidaram tua coragem...
E te ergueram pétrea-estátua, em homenagem,
No ilustre palacete da Câmara de Penaguião!


Entroncamento/Tomar - 1 de Junho de 2017


Autor: Alfredo Martins Guedes

Publicado por Alfredo Guedes em ‘Freguesia de Lobrigos, São Miguel e São João Baptista, e Sanhoane’ - https://www.facebook.com/freguesialobrigosesanhoane/
26 de dezembro de 2017

Publicado em https://www.facebook.com/alfredo.guedes.75
24 de abril de 2019
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Foto1: (c) 2011 ADzivo
Foto2: (c) Alfredo Martins Guedes
Recolha de Monteiro deQueiroz
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SANTA MARTA ]

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A LENDA DO LAPADAS [II] E SÃO MIGUEL ARCANJO


'Reza a lenda que numa noite de luar de se enxergar a altas horas da noite e abertura de pipos de vinho novo no armazém de cada um, a rapaziada passeava-se na estrada de macadame em frente à quinta dos 'rolas' em Santa Marta, freguesia de São Miguel de Lobrigos...

Ávidos das habituais 'maroteiras' e movidos pela aposta do acerto na pontaria dirigida à espada de São Miguel Arcanjo (estatueta no frontal do telhado do palacete, agora edifício sede do município) e à 'lapada' (pedras ladeiras do tamanho de uma mão) alguma dessas almas da freguesia, deferiu em rude acerto com estrondo e precisão, golpe irremediável na dita espada, desfazendo-a em pedaços bem mais minguados que todas as lapadas que ficaram pelo esventrado telhado. Ficou assim o arcanjo em vez de, com uma espada empunhada, uma 'lapada' na sua mão.

No raiar do dia vindo, o espanto e o falatório não continha em cada frase outra entoação que não fosse a palavra 'lapada' ou o arcanjo de lapada na mão.'

por Norberto Teixeira
20 de junho de 2019
https://www.facebook.com/norberto.teixeira/posts/2923441954349180
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'Nós conversamos na juventude sobre isso, esta história foi-me contada há 40 anos pelo Ni Rola, como sabes é um descendente da família proprietária da casa depois vendida à Câmara, história essa que era contada pelo avô dele.'

por Norberto Teixeira
@norberto.teixeira
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Nota: "Miguel (em hebraico: מִיכָאֵל, Micha'el or Mîkhā'ēl; em grego: Μιχαήλ, Mikhaíl; em latim: Michael or Míchaël; em árabe: میکائیل, Mikā'īl) é um nome atribuído na Bíblia a um anjo ou arcanjo, numa posição de líder de exércitos celestiais. É um dos três anjos mencionados por nome na Bíblia, juntamente com Rafael no livro de Tobias e Gabriel no evangelho de S.Lucas, e é o único chamado de arcanjo. É o anjo do arrependimento e da justiça. É comemorado pela Igreja Católica sob o nome de São Miguel Arcanjo no dia 29 de Setembro." 
in [https://lifestyle.sapo.pt/astral/espiritualidade/artigos/sao-miguel-arcanjo], [r.20.mar.2021]

Recolha de Monteiro deQueiroz, [20.jun.2019]
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A LENDA DO LAPADAS [I]

Tenho uma muito ténue ideia de ter ouvido há já imenso tempo, no meu seio familiar, que 'O Lapadas' tinha sido um nobre e valoroso guerreiro penaguiota que, em tempos já esquecidos, tinha corrido os invasores destas Terras de (Santa Marta de) Penaguião 'à lapada'. E que dessa forma conseguiu com que o povo ficasse livre dessa gente estrangeira e opressora. Daí ter ficado para a história lendária como 'O Lapadas'!

Será que sonhei com esta lenda (versão) que vos acabo de contar?

Será que esta versão terá a ver, muito longinquamente, com a Lenda de Dom Thedom e Dom Rausendo?

Questionei e pesquisei na rede sobre o assunto e pouca informação consegui obter para além das versões dos meus amigos Alfredo Guedes e Norberto Teixeira, às quais junto contributos dos também amigos António Pereira e Eugénia Gouveia e do blogue 'Portugal tem piada!'
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VERSÕES OBTIDAS:

1ª.a.
LAPADAS

(Soneto para um mítico herói de Santa Marta de Penaguião)

Senhor de enorme força, talento às carradas...
As certeiras grossas lapas tinhas por fuzil.
E, por isso, te chamaram o Lapadas,
Luso-herói afrontador da corja vil!

Lá do alto dos penhascos do Marão,
Sobranceiros às terras de Santa Marta,
Distribuías, com vigor, lapada à farta...
Aos estrangeiros saqueadores do nosso pão!

Sentinela do nosso torrão, intrépido cuidador,
Ao indesejado intruso mostraste teu vigor...
Guerreiro atento, soberano guardião!

Os vindouros não olvidaram tua coragem...
E te ergueram pétrea-estátua, em homenagem,
No ilustre palacete da Câmara de Penaguião!


Entroncamento/Tomar - 1 de Junho de 2017

Autor: Alfredo Martins Guedes

Publicado por Alfredo Guedes em ‘Freguesia de Lobrigos, São Miguel e São João Baptista, e Sanhoane’ - https://www.facebook.com/freguesialobrigosesanhoane/
26 de dezembro de 2017

Publicado em https://www.facebook.com/alfredo.guedes.75
24 de abril de 2019
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1ª.b.
«O Guerreiro Lapadas com a sua pedra na mão!!! Segundo a história "ganhou" uma batalha à pedrada.
Ouvi essa história muitas vezes amigo! Trabalhei em frente a essa estátua durante 9 anos... Via-a todos os dias, e era essa a história que contavam!»

por Antonio Pereira
@antonio.pereira.92754
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1ª.c.
«Não sei é lenda só sei que eu tinha medo que me atirasse a pedra e corria a sete pés.
Era eu pequenina, ia com a minha irmã levar o almoço ao meu pai que trabalhava na adega, ia de Lobrigos a Santa Marta a pé, tinha sempre medo do Lapadas já lá vão uns quarenta e tais.»

por Eugénia Gouveia
@eugenia.gouveia.509
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1ª.d.
«O que você precisa é de umas boas lapadas!
Não me diga que nunca tinha ouvido falar deste guerreiro (e vinho) de Santa Marta de Penaguião...


in blogue 'Portugal tem piada!', 22.jan.2013
[http://portugaltempiada.blogspot.com/2013/01/o-que-voce-precisa-e-de-umas-boas.html]
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O LAPADAS...
segundo Norberto Teixeira


«A origem de...
'O Lapadas'

Pela sua relação direta com os penaguienses e salvo melhor opinião...

Reza a lenda que numa noite de luar de se enxergar a altas horas da noite e abertura de pipos de vinho novo no armazém de cada um, a rapaziada passeava-se na estrada de macadame em frente à quinta dos 'rolas' em Santa Marta, freguesia de São Miguel de Lobrigos...

Ávidos das habituais 'maroteiras' e movidos pela aposta do acerto na pontaria dirigida à espada de São Miguel Arcanjo (estatueta no frontal do telhado do palacete, agora edifício sede do município) e à 'lapada' (pedras ladeiras do tamanho de uma mão) alguma dessas almas da freguesia, deferiu em rude acerto com estrondo e precisão, golpe irremediável na dita espada, desfazendo-a em pedaços bem mais minguados que todas as lapadas que ficaram pelo esventrado telhado. Ficou assim o arcanjo em vez de, com uma espada empunhada, uma 'lapada' na sua mão.

No raiar do dia vindo, o espanto e o falatório não continha em cada frase outra entoação que não fosse a palavra 'lapada' ou o arcanjo de lapada na mão.»

por Norberto Teixeira
20 de junho de 2019
https://www.facebook.com/norberto.teixeira/posts/2923441954349180

«Nós conversamos na juventude sobre isso, esta história foi-me contada há 40 anos pelo Ni Rola, como sabes é um descendente da família proprietária da casa depois vendida à Câmara, história essa que era contada pelo avô dele.»

por Norberto Teixeira
@norberto.teixeira
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3ª
Em relação à palavra 'lapa' há quem atribua a sua origem ao celta 'lappa' que remete a 'pedra' ou 'rochedo'. Se 'lapa' = 'pedra', também 'lapada' será = 'pedrada'. Tenho também a ideia de que 'lapada' seja sinónimo de 'bofetada', talvez por confusão com 'latada'.

A Oés-noroeste - ONO da Vila de Santa Marta existe referência a um vale, o "Vale da Lapa", inserido na denominação "Quinta do Vale da Lapa", com a seguinte georreferenciação: 
(DMS) 41°13'05.2"N 7°49'00.6"W; 
(DD) 41.218107, -7.816821; 
(Plus Code / Código+) 659M+67 Medrões.

Poderá a origem do nosso mítico Lapadas ter a ver com a Lapa que deu origem ao Vale da Lapa?


Fotos da Lapa

Foto 2

Foto 3

Foto 4
  
Foto 5
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Créditos:
Foto1 - (c) 2011 ADzivo
Imagem1 - São Miguel Arcanjo, pintura de Juan de Espinal
Imagem2 mapa - 2021 Monteiro deQueiroz/My Maps/Google
Foto2a5 - (c) 2021 Monteiro deQueiroz 
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Monteiro deQueiroz
TEXTOS, ESTUDOS, RECOLHAS e CONTRIBUTOS...
Colectânea de Textos e Outros...
"SE NÃO DEFENDERMOS O QUE É NOSSO, QUEM É QUE O DEFENDE?"
[https://docsdequeiroz.blogspot.com]
[https://docsdequeiroz.blogspot.com/2020/11/quem-foi-o-lapadas.html][p.21.nov.2020]
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A LENDA DOS MENINOS DO CASTELO DE FORNELOS


[LENDA-NARRATIVA FICCIONADA DE AUTOR]

Em 1740, Fornelos era uma vigararia, com algumas casas e uma Igreja em construção, fundada por um grupo de 11 moradores.

Em março de 1809 já era uma vila com bastantes e assenhoreadas casas cercadas por vinhais de boa cepa. A população bastava-se por si mesma. Cuidava das suas plantações de batatas, hortas, criavam borregos, cabras e bois. Almocreves passavam de quando em vez e traziam novidades que não se fabricavam por lá. Também lá ia uma senhora de rosto manchado, xale e um grande avental, que vendia peixe salgado do mar para que pudesse resistir. O mar ficava muito longe, lá para os lados do Porto e Vila Nova de Gaia. Os peixes chegavam a Peso da Régua em lombos de burros. A valente senhora fazia o percurso de Santa Marta até Fornelos para vender o seu peixe, cujo cheiro não era comum por aquelas bandas. As crianças corriam para assistir à venda no largo da Nogueira, junto à fonte, para ver como eram grandes aqueles peixes. Normalmente ela trazia arraias e sardinhas, uns cachuchos, umas sardas.

Durante todo o dia 12 de março não se falava em outra coisa que não fosse a iminente invasão das tropas francesas. Napoleão já tinha invadido Portugal uma vez e agora o fazia pela segunda vez. Na mitra da aldeia reuniram-se os anciãos aos jovens para decidirem o que fazer no caso das tropas passarem por lá. Esconderam o que puderam ao pé de árvores conhecidas, mas as garrafas de vinhos de todos os anos que haviam passado, testemunhos de boas colheitas, essas dariam muito trabalho para esconder. Ficariam nas adegas subterrâneas das casas. Mulheres e crianças ficariam na Igreja a orar. Os mais velhos ficariam na escuta e na observação. Os mais jovens pegaram em seus bacamartes, velhos arcos e bestas e postaram-se na única entrada da aldeia, na estrada que a ligava a Santa Marta. Essa estrada ainda existe. Essa era toda a força de defesa que Fornelos poderia ter. Não havia um castelo onde se refugiar, guarnição do exército, nada. Mas se os franceses chegassem até lá, poderiam até entrar, mas muitos jamais sairiam. Isso poderia ser de grande ajuda para os expulsar do território. Quanto mais se enfraquecessem as forças de Napoleão, melhor seria. O Rei, D. João VI, de título “Rei de Portugal Brasil e Algarves” até se tinha mudado para o Brasil, um dos reinos, para evitar que a invasão fosse consumada, pois que para vencer, naqueles tempos, não era suficiente invadir. Havia que se prender, derrubar o Rei, como ainda hoje se faz nos jogos de xadrez. D. João VI não lhes deu esse prazer e tornou-lhes a vitória impossível, porque para o apanharem teriam que viajar até o Brasil e enfrentar a esquadra portuguesa juntamente com a inglesa, a rainha dos mares.

Mário, Afonso, Pedro, Adalberto e Otílio eram crianças entre os 12 e os 16 anos. Foram para a Igreja com os outros, mas logo entre cochichos resolveram que o melhor era ir ajudar os mais velhos. Sorrateiramente evadiram-se da Igreja e foram apanhar as suas fisgas. Uma fisgada no olho de um francês tinha que causar algum estrago. A noite estava fria, chuvosa, Em noites como aquela, em outros tempos, seus pais, mães, algumas avós, costumavam contar-lhes histórias enquanto tomavam um leite quente de cabra, com migas de pão. As histórias terminavam sempre quando já estavam aconchegados com os pés quentes por uma botija de água aquecida no lume das brasas da lareira. Naquele frio, fora da igreja, muitas histórias passaram pela cabeça dos cinco pequenos amigos. Seu temor era imenso naquele negrume da noite fria. Começavam a tremer sem saber se era do frio ou de medo. Certamente tremiam pelos dois motivos. Tinham certeza e imensa fé de que poderiam ajudar a salvar a aldeia se preciso fosse. Pararam e de mãos dadas, fizeram um pequeno circulo e rezaram a Deus.
No meio da oração, Afonso, o mais novo, perguntou aos outros:
- Olhem lá... Como é Deus para lhe podermos rezar de forma a que ele nos ouça? Não podemos rezar sem sabermos como ele é. Podemos enganar-nos e rezar ao deus dos franceses e ele não vai nos ouvir.
- Minha mãe reza a Jesus - disse Pedro, o mais novo - Estou justamente a pensar nele.
- Mas ouvi dizer - atalhou logo o Adalberto - que existe também o Buda, o Alá e outros.
- É sim! - concordou Otílio - Então deve haver outro Deus maior ainda e mais forte que será o chefe deles. Vamos rezar-lhe que é mais seguro.

E completaram a oração. Logo em seguida começaram a ouvir dois tipos de ruídos. Eram fortes chiados de rodas e passos fortes de botas que vinham dos montes, misturados ao som de ferraduras de cavalos ao bater no chão pedregoso dos montes ao redor da vila. De outro lado, no cimo da aldeia, lá no cimo, para os lados do cemitério, um som mais parecido com um longo e forte silvo grave, abafado. Imaginaram logo que o chiado era de rodas de canhões, acompanhados de soldados armados e cavalaria. Estavam perdidos. Na igreja logo souberam que uma força de Napoleão se aproximava da aldeia e eram muitos a julgar pelos sons. Na aldeia os mais velhos podiam contar quantos cavalos eram, quantos homens, quantos canhões, porque estavam habituados aos sons que vinham de cada monte. Calcularam uns cinquenta homens, e vinte cavaleiros com um canhão e 12 carroças. Não era o exército de Napoleão. Seria uma força que se desgarrara do exército principal para conseguir mantimentos para o corpo de invasão.

Olharam então para trás. Havia um castelo enorme lá no cimo da aldeia. Não havia uma só luz acesa. Era um monstro imenso. No alto tremulavam a bandeira inglesa e a portuguesa, que colhiam reflexos que passavam entre uma nuvem e outra na noite escura. Parecia um imenso fantasma. Em cada ameia, imponente, a figura de um rei português desde D. Afonso Henriques, o fundador, até D. João VI. Todos já mortos menos o último que estava no Brasil. 

Podiam reconhecê-los pelas figuras que tinham visto na escola, uma casa alugada onde a professora esquentava suas belas pernas no braseiro. Todos já se tinham oferecido para ir apanhar o braseiro e colocá-lo demoradamente aos pés dela, debaixo de sua grande mesa. Ouviram também comentários, com todo o respeito, vindos de homens solteiros e também dos casados da aldeia, coisa que nem se atreviam a comentar para não levar uns tabefes. Chegavam a ir para o alto do rio, escondidos entre as moitas, na esperança de vê-la a lavar roupa e sair para abrir o milheiral. Às vezes era assim. Quando alguma mulher ia para o meio do milheiral, logo do outro lado o milho se abria como por encanto e as duas trilhas se uniam lá no meio. Mas nunca viram a bela professora lavar roupa e muito menos ir para o meio do milheiral.

Correram para a Igreja e aos gritos avisaram quem lá estava. Os homens que estavam mais perto logo se deram conta também e todos correram esbaforidos, rua acima, a caminho do castelo de Fornelos. Ainda era um bom caminho a percorrer cheio de fragas roliças que faziam escorregar. Cada um com sua fisga e um monte de pedras nos bolsos, os cinco pequenos lá foram, correndo o tanto que podiam. Volta e meia escutavam uma imprecação dos mais velhos que se repetia amiúde:
- Ora esta, carago... Um Castelo em Fornelos, caneco!...
- E os franceses, esses safardanas, estão a vir ou estão ainda a monte?

Quando chegaram ao Castelo não viram ninguém. Não havia um rei sequer nas ameias nem na torre de menagem. Nem bandeiras. Nem castelo havia. Era apenas uma sombra que se dissipava entre o nevoeiro da manhã. A chuva parara. Incrédulos, apuraram os ouvidos para escutar se havia movimento dos franceses. Nada. Só se ouvia o piar de cotovias, tordos, pintassilgos. Quando chegaram à aldeia, os primeiros alvores do dia haviam feito o céu brilhar como dantes.

Quando chegaram ao largo da Nogueira, quase na saída da aldeia, viram um soldado francês embriagado. Tinha nas mãos uma garrafa de vinho tinto, da safra de 1808, do ano anterior, praticamente vazia. Trocava as pernas apoiando-se num bacamarte. Ao vê-lo, Abílio, o mais velho, apanhou a sua fisga. Rapidamente atirou-lhe uma pedrada que bateu na testa do "chausseur de Fischer", tipo de unidade francesa da guerra peninsular conhecida como "caçador". Em vez de gritar em francês, o homem soltou uma imprecação bem conhecida, com uma voz inconfundível.
- Malditos franceses, carago!
Era o Américo, homem de posses e já meio passado na idade, que gostava de entornar uns copos. Tinha ficado porque já estava mal das pernas e cansado. Vestira uma roupa velha do exército francês ainda da primeira invasão para passar desapercebido. Aproveitara a ocasião para entrar numa adega e tomar os últimos copos de sua vida. Nenhum francês entrara na aldeia.

A caminho do Porto o Marechal francês Nicolas Jean de Dieu Soult perguntava a seu oficial de campo onde estaria aquele destacamento que destinara para assaltar as aldeias e trazer mantimentos. O oficial informou que esse se perdera e não tinha notícias. Haviam desaparecido.

Na aldeia, os garotos comemoravam a façanha. Haviam pedido desculpa ao Américo e até haviam ajudado a fazer-lhe o curativo no galo que lhe parara de crescer no meio da testa. Por pouco não lhe batera no olho. Homens e mulheres comentavam sobre o lindo castelo que aparecera e desaparecera numa única noite.

Orgulhosas, as crianças comentavam os acontecimentos entre si. Disse o Otílio:
- Estão a ver? Que grande pedrada. Se fosse um francês eu tinha acertado. Palavra que tinha! Sabem qual é o nome do gajo que comanda os franceses? João de Deus Soult. Que Deus será esse o dos franceses? Deve ser muita fraco pá!

Em 1983 visitei Fornelos. A roupa que o Américo usava não sei que fim levou. O caruncho deve-a ter rilhado toda. As garrafas nas adegas ainda estão lá. Agora muito menos, mas estão marcadas a tinta branca com a data da safra do vinho. Os franceses desse não beberam. O bacamarte foi vendido a um almocreve que fazia o trajeto entre o Viso e Fornelos e que morreu mais tarde numa luta com outro almocreve, galego. Dizem que em certas noites umas luzes andam para cima e para baixo até se encontrarem na metade do caminho onde ainda existe uma capela, em honra de Santa Eufêmia, e então depois de breves segundos juntas, desaparecem.

O vinho que tomei, da safra de 1810, data da última invasão francesa quando o exército de Napoleão foi derrotado na batalha de Toulouse, era muito bom. Ainda lhe sinto o paladar. Napoleão perdeu a prova de um grande vinho que talvez tivesse mudado o rumo da história. Hoje, esse vinho teria 202 anos. Se passar em Fornelos, pergunte se ainda o há. Se não houver, tome qualquer outro de qualquer safra Todos são excelentes e honestos. Não devem nada aos de Napoleão.

por Rui Rodrigues (Fornelense emigrado no Brasil) 
segunda-feira, 14 de maio de 2012
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por Rui Alberto Monteiro Rodrigues
[https://www.facebook.com/ruialberto.monteirorodrigues.50]
[Cabo Frio, Rio de Janeiro, Brasil]
in A Lenda dos meninos do Castelo de Fornelos
[in blogue Bar do Chopp Grátis - https://bardochoppgratis.blogspot.com/2012/05/lenda-dos-meninos-do-castelo-de.html] 

Recolhido por Monteiro deQueiroz, [r.17.03.2021]
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A MESA DOS DEUSES DA ERMIDA DO MARÃO

Ermida do Marão, Foto de (c) José Gonçalves | Olhares - Fotografia Online

"No cimo da aldeia da Ermida do Marão há um caminho de terra batida que nos leva a um ribeiro vindo da serra. No Verão esse ribeiro seca fazendo com que se consigam ver as pedras do seu leito. Contou-me um idoso residente na aldeia que nesse ribeiro existe uma rocha que parece um patamar e onde, segundo ouviu dizer aos mais antigos, se reuniam os deuses. A essa rocha davam-lhe o nome 'a mesa dos deuses', pois o formato da rocha assim o parecia."

O que acho interessante é chamarem-lhe "a mesa dos deuses'', onde pelos vistos, segundo o referido idoso, também se banqueteavam. Mas o termo "deuses" vem de onde e de quando? Talvez da passagem dos romanos por cá? E esta história, muito antiga, lá se foi transmitindo oralmente até aos dias de hoje entre os habitantes da Ermida do Marão. 

Lenda ouvida em 2005 por Luísa Rodrigues, de Tabuadelo, Fontes, Santa Marta de Penaguião 
Recolha de Monteiro deQueiroz, [22.02.2021]
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LENDA DA FUNDAÇÃO DE PENAGUIÃO E DA IGREJA DE SÃO MIGUEL

Foto: (c) André Barragon | Flickr

Nos “Livros da Família Guedes, Lamego, 1547-1783” [1], família relacionada com o Morgado de Santa Comba, São Miguel de Lobrigos, sediado na Quinta do Menino D’Oiro, ou Quinta do Lamego, instituído em “1462 por Gonçalo Vaz Guedes, em nome de seu filho Gonçalo Vaz, o Moço”, encontra-se um “Treslado do Pergaminho Velho que se fez authentico, com os registos Del Rey D. Afonso 3° que estão na Torre do Tombo a folhas 101, 102, e 105 do dito Rey”, onde se conta a história, ou lenda, da Fundação de Penaguião e da Igreja de São Miguel.

Fundaçon de Penagion e Igreja de S. Miguel

Como o Abbade de Sam Migel de Borba de Godim esquivasse um dia peitar colheita, e albergagem com boa cor, e franqueza, a Dom Gomes Mem Gedeom, por trager muita gente em saa companha, dixolhe que os Abbades nom guizarão Caldeira para as hostes, ne ele fora nunca contente de tal uzança. Ouvindo esto Dom Gomes, e os que ivam com ele creceulhe arebentina, e nom le catarão as Ordens, athá que alvorizou por seu malgrado, rezando a maldicon de Abiron. Entonces D. Gomes, que hera mui sanhudo, fijo hi rivar em terra aquela Igreja qua era fundaçon de saa avoenga, e el tomado de colera, mas tanto que este fijo se afrigio em seu Coraçon de mal feitoria, e se virou a Deus pelo perdon, mandou casar ao Mosteiro do Sobrado ao Padre que nello era mais sabido que se dizia Gil Affonso, o de seu concelho escreveo do padre Santo de Roma pregandolhe que le mandaçe absolviçom para el e para todos daquel peccado, cá era rico homem, e nom podeia leixar a suas terras, que avea com a sua fadiga populadas, nem andar com todo seu pendon cavalla a Roma. Aprouge ao Padre Santo a tal razom, e mandoula, com condiçon que figuesse outra lgreja maior, e mais coragioza ao mesmo Santo Arcanjo, naquel, ou altro melho paradeiro, que travasse na saa terra, e le doasse mais arvores e erdamentos que acolantre avea de primeiro, e que nom se aleixasse da qual logo alli que todo fosse mui comprido, e que quando se finace fosse soterrado dentro della como le pregava, mas non na principal Capela ao pé do Altar, que hi queria que jouvessem ous Abbades da Igreja, e nom outra ossada salvo de Bispo ou Abbade, mas nom del, ne dos padrons que apos de Venecem aser da questa lgreja, para que se acordassem para senpre de honrar a Crogezia, e que por esto nom les quitava os demais proes, ne fagerem hi ontra capella com altar, donde seus corpos jouvessem, se declarava que mancando semel no postrimeiro padron, nom era contente que ouvesse nella outro padron que o Bispo. O que todo nesta guiza le mandava em pena do seu peccado, e soto sua bençon. Do que todo Dom Gomes foi muito ledo, e em quanto fijo per esto mandamento a tal Igreja no logo em que hora jaz fixou cabel o seu padron, e nom ouzou de lidear, pousava na saa Quinta onde nenhum dos seus o leixou, cá era dellos mui quarta, e huira hi tanta vivenda de gente que populou a queste logo na guiza, que sabedes da grande Villa, e por esta cajom deste tempo em cá ouve por nome = Penna Guedeom = E por que o Bispo Dom Martinho Pirez na vezitaçom que ha pouco fijo por aqui trovou todo esto ser passado na guiza sopra decrarada pregou o Juiz João Affonço, que feita inqueriçom de bons homes, e testemunhas que soubessem desto mandasse fazer de todo instrumento, por que a mingea del nom perdesse o juz que tinha para a lgreja de Sam Miguel mancando nella semel do postrimeiro padrom. E el o mandou fager a mim Tabalion, e eu o figi e firmei aqui com o men nome em trez de Abril de MCCXXIX. + Pedro Folche I.º Aº. Juiz.

Quinta do Menino D'oiro | Quinta do Lamego, Santa Comba, São Miguel de Lobrigos
Foto: (c) www.cm-smpenaguiao.pt
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[1] "Livros da Família Guedes, Lamego, 1547-1783". Estes livros encontram-se no Arquivo Distrital de Viseu num Fundo de Família. A Srª D. Maria Teresa de Aragão Vasconcelos Osório, de Lamego, vendeu ao ADV – Arquivo Distrital de Viseu dois livros. O primeiro é composto por documentos que se prendem com a história nobiliárquica da família. O outro, é cópia integral de todos os documentos constantes do primeiro livro, autenticado pelo escrivão da provedoria.
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in “Os Morgados de Santa Comba, em S. Miguel de Lobrigos, Penaguião, Ensaio Genealógico”, por Vítor Manuel Pacheco Guedes, Porto, 2015, in Cadernos Barão de Arede, nº 6, Revista do Centro de Estudos de Genealogia e Heráldica Barão de Arêde Coelho, Outubro – Dezembro 2015, pág. 73, 81 a 82. Em Revista do Centro de Estudos de Genealogia e Heráldica Barão de Arêde Coelho (arede.eu), http://www.arede.eu/img/CADERNOS_BARAO_DE_AREDE_6.pdf.

Recolhido por Monteiro deQueiroz, [r.08.02.2021]
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RESGATE DA IMAGEM DE N.ª SENHORA DAS CANDEIAS


Canelas do Douro


Outra das histórias que a população de Canelas conta com mais emoção aos mais novos é a do Resgate da Imagem de Nª Senhora das Candeias. 

Conta-se que, quando havia uma procissão em Poiares (terra vizinha), era habitual cada uma das povoações, que pertencia a essa paróquia, levar os seus padroeiros para o cortejo. Por norma, os santos padroeiros entravam de costas na Igreja Matriz, mas, certa vez, os habitantes de Poiares entraram com a padroeira de Canelas (Nª Senhora das Candeias) de frente, para que esta ficasse a pertencer à Igreja de Poiares e, de lá, não a quiseram deixar sair.

O Povo de Canelas não aceitou este abuso e revoltou-se, tendo sido a chefia do resgate entregue aos "Penetras" que, juntamente com o povo, dirigiram-se até à localidade de Poiares, armados com cobertores, armas, paus e cavalos, para poderem recuperar a sua padroeira.

Enquanto os povos de Canelas e de Poiares lutavam entre si, os "Penetras" entraram com um cavalo na Igreja e foram buscar a Nª Senhora das Candeias, a qual, embrulhada nos cobertores, regressou a Canelas.

A partir desta data, a imagem da padroeira desta freguesia não voltou a sair de Canelas para participar em tais cortejos.

Fonte: EB1 de Canelas.
in Contos e Lendas. (comunidades.net), http://canelasdodouro.comunidades.net/contos-e-lendas
Foto: Santuários Marianos de Portugal | Facebook, https://www.facebook.com/santuariosmarianos/
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NOSSA SENHORA DAS CANDEIAS [III]


Milagre sobre a Raiva
Canelas do Douro

Há histórias e lendas que, ao longo dos tempos, foram transmitidas de pais para filhos. Em Canelas a lenda mais conhecida é a do Milagre sobre a Raiva. 

Lenda do Milagre sobre a Raiva - Conta a lenda que, há muitos anos, mais especificamente em 1764, o Sr. Lourenço Teixeira Pinto Lacerda, membro da alta sociedade, foi mordido por um cão raivoso, quando andava a passear pelas suas quintas.

De início, o Sr. Lourenço não prestou muita antenção ao sucedido mas, com o passar do tempo, começou a sentir-se doente, desconhecendo qual a razão de tão altas febres. Alguns dias volvidos, o fidalgo, ao passar pelo rio Corgo, viu reflectida na água a figura de um cão, o que era um sinal certo de que estava com raiva.

Muito aflito, quando os médicos já não lhe davam muito tempo de vida, virou-se para Nossa Senhora das Candeias e implorou que lhe concedesse o milagre do o salvar daquela enfermidade. Em troca, o Sr. Lourenço comprometeu-se a fazer uma festa em sua honra, até à quinta geração, onde, a cada família, seriam oferecidos um pão bento e uma vela. Nª Senhora das Candeias concedeu-lhe essa graça e o fidalgo, juntamente com a sua família, honraram a promessa feita.

Assim que a família Lacerda, na quinta geração, acabou de cumprir a promessa, o povo de Canelas encarregou-se desta festa, que se realiza no dia 2 de Fevereiro. 

Hoje, esta festa tem características muito específicas. É realizada por meninas donzelas (com idades compreendidas entre o 4 e os 8 anos) que são as mordomas. Durante o ano a família da menina (mordoma) sai pelas ruas da aldeia e, de casa em casa, vai pedir aos habitantes que contribuam com o que quiserem (dinheiro, azeite, ...). O azeite é, depois, vendido, revertendo os lucros dessa venda para a festa. Cada família recebe uma imagem de Nª Senhora das Candeias.

Na véspera do dia 2, pelas 12 horas, ocorre a benção dos cestos do pão, em forma de pássaros e pinhas. Depois da missa os pães bentos são distribuídos às famílias da aldeia. 

No dia da festa uma banda de música percorre o povoado e vai buscar a mordoma, acompanhando-a à Igreja de Nª Senhora das Candeias. 

Durante a Eucaristia é feita a procissão de velas, sendo as velas benzidas para, posteriormente, serem entregues em cada casa. No final da missa, procede-se à nomeação da mordoma para a festa do ano seguinte. 

Relativamente ao pão que é entregue a cada família, no momento em que é ingerido, deve rezar-se uma Avé-Maria à Virgem das Candeias, para que esta ilumine e guie durante mais um ano. 

A vela é utilizada, em dias de fortes trovoadas, pelas pessoas da aldeia, que as acendem perto de uma janela, com o intuito de afastar as trovoadas. 

Fonte: EB1 de Canelas.
in Contos e Lendas. (comunidades.net), http://canelasdodouro.comunidades.net/contos-e-lendas
Foto: Santuários Marianos de Portugal | Facebook, https://www.facebook.com/santuariosmarianos/ 
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NOSSA SENHORA DAS CANDEIAS [II]


Milagre sobre a Raiva
Canelas do Douro

Diz a lenda que há muitos anos, na data de 1764 o senhor Lourenço Teixeira Pinto de Lacerda, da alta sociedade, foi mordido por um cão raivoso enquanto andava a passear pelas suas quintas.

No inicio não deu muita importância, mas depois, com o tempo, começou a ficar muito doente, não sabendo a razão de tamanha febre. Este fidalgo, dias depois ao passar pelo rio Corgo, viu na água a figura de um cão, e este era o sinal certo de raiva. A raiva era então conhecida como uma doença viral fatal, em geral transmissível ao homem pela mordedura dum mamífero infetado, a vacina só apareceria no ano de 1885, com Louis Pasteur. Muito aflito e como já nenhum médico lhe dava muito tempo de vida, virou-se para a Fé em Nossa Senhora das Candeias e pediu-lhe que, se lhe concedesse o milagre de o salvar daquela enfermidade, ele fazia uma festa em sua honra até à sua 5a geração, onde daria um pão bento e uma vela a cada família.

Nossa Senhora das Candeias concedeu-lhe essa graça e ele juntamente com a sua família honraram a sua promessa. Assim que terminou esta honra pela parte da família Lacerda, este ato tornou-se tradição e o povo tomou conta desta, onde todos os anos no dia 02 de fevereiro se realiza esta festa em honra de Nossa Senhora das Candeias. 

Nesta aldeia a festa tem características muito próprias. Atualmente a mordoma é uma menina escolhida com a idade compreendida sensivelmente entre os 4 e 12 anos, e durante o ano a sua família sai pela aldeia a pedir ajuda a cada casa, para que contribuam com o que quiserem, seja em dinheiro ou azeite, que, depois de vendido, reverte para a festa, nestas visitas é entregue a cada família uma imagem de Nossa Senhora das Candeias. 

Na véspera do dia 2, logo pela manhã, há a bênção dos cestos de pão que têm formas de pássaros e pinhas, os quais, depois de benzidos são entregues às famílias da aldeia e das aldeias vizinhas, casa a casa. 

No próprio dia da festa, uma banda de música percorre a preceito toda a Freguesia, e de seguida vai buscar a mordoma e acompanha-a à igreja de Nossa Senhora das Candeias, numa alegria contagiante. 

Durante a missa é realizada uma procissão das velas, estas são benzidas para depois serem entregues em cada casa. 

No final da Eucaristia é nomeada com todo o secretismo e suspense até ao momento, a mordoma para o ano seguinte, sendo assim, todos os anos desde meados do século XIX. 

Uma crença popular está relacionada com o estado do tempo: “se a Nossa Senhora das Candeias estiver a rir, está o Inverno para vir, se estiver a chorar, está o Inverno a passar”. Ou seja, se o tempo estiver de sol no Dia da Senhora das Candeias, o inverno está a chegar, mas se chover nesse dia, o inverno está a acabar. 

De tarde, a banda toca animada no largo principal da Freguesia e toda gente dança de forma afincada as músicas “ribaldeiras” próprias para dar um pé de dança, onde também os músicos, apesar do frio, tocam avidamente levando a um ambiente de festa genuíno. Todos os pares concorrem ao peixe de bacalhau, bastante abonado e ao garrafão do precioso néctar do Douro, recompensa outrora atribuída pelos senhores abastados, agora substituídos pela Junta de Freguesia. 

O pão entregue, quando comido, deve rezar-se uma Ave Maria à Virgem da Senhora das Candeias, também chamada Senhora da Luz, para que esta nos ilumine e nos guie durante mais um ano, muitas famílias também dão o pão aos animais para que sejam também eles abençoados. 

A vela é especialmente utilizada quando ocorrem fortes trovoadas, as pessoas da aldeia costumam acende-las nas janelas das suas casas em busca de bonança e protecção. 

in Freguesia de Canelas, Peso da Régua, celebra Senhora das Candeias, http://www.public.vivadouro.org/informacao/cultura/%EF%BB%Bffreguesia-de-canelas-peso-da-regua-celebra-senhora-das-candeias/, [p.01.02.2019]
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NOSSA SENHORA DAS CANDEIAS [I]


Milagre sobre a Raiva
Canelas do Douro

Canelas do Douro é uma terra muito antiga, do tempo dos romanos ou até anterior. Foi sede de concelho de 1360 até 1885, mas agora está integrada na União de Freguesias de Poiares e Canelas, concelho de Peso da Régua, distrito e diocese de Vila Real. Viveram nesta terra alguns antepassados de Egas Moniz, o aio do nosso primeiro rei D. Afonso Henriques.

O culto a Nossa Senhora das Candeias, da Purificação, da Apresentação ou da Luz é o que resulta do episódio narrado pelo evangelista São Lucas (Lc 2, 22-40) no qual descreve Nossa Senhora e São José a apresentar o Deus Menino no templo de Jerusalém onde foram recebidos pelos profetas Simeão e Ana. Simeão pegou o Menino nos braços e disse-lhes que Jesus é a “luz para se revelar às nações”.

A Igreja católica celebra este acontecimento no dia 2 de fevereiro.

Há várias lendas sobre Nossa Senhora das Candeias de Canelas. A mais conhecida é a do milagre sobre a raiva em que se conta que um homem abastado foi mordido por um cão raivoso e já muito doente prometeu a Nossa Senhora fazer uma festa em que ofereceria pão e uma vela a toda a povoação. O homem ficou curado a ainda hoje há a tradição de na véspera do dia 2 de fevereiro benzerem o pão e as velas que serão oferecidos à população de Canelas do Douro. 

A romaria à Senhora das Candeias realiza-se nos dias 14 e 15 de agosto. Na procissão desta festa muitas pessoas e crianças vão trajadas representando figuras bíblicas. 

in Santuários Marianos de Portugal – Publicações | Facebook, https://www.facebook.com/santuariosmarianos/posts/2053148288298793, [p.12.05.2018]
Foto: Santuários Marianos de Portugal | Facebook, https://www.facebook.com/santuariosmarianos/
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DESCOBERTA DO "VINHO DO PORTO" PELOS INGLESES


Douro, Lamego, Cambres


Vinho do Porto descoberto em Lamego, Cambres

Terá sido através de um mercador inglês que o depois denominado vinho do Porto passou a ser conhecido e comercializado em Inglaterra. Este mercador, sediado em Viana do Castelo, viajou, a determinada altura, por terras do Douro, tendo ficado hospedado no Convento de Santa Cruz, em Lamego. Ali foi obsequiado pelos monges, que no final de um magnífico repasto, foi brindado com um saboroso vinho de sobremesa "entre ambarado e fogo, que a Ordem colhia num seu couto ou quinta ribeirinha do Douro". Este inglês,"estarrecido" com tal bebida, pois nunca tinha provado coisa melhor na vida, depressa tornou a Lamego para "comprar alguns almudes do precioso néctar". Assim se terá começado a conhecer o vinho generoso de Lamego que, pelo rio Douro abaixo, era desembarcado em Vila Nova de Gaia, para, depois de devidamente tratado, ser exportado para o estrangeiro. Daqui também o nome porque ficou, durante algum tempo, conhecido - Vinho de embarque - cuja verdadeira expansão se inicia, em grande escala, na segunda metade do séc. XVII.

É já no século XVIII, com o Tratado de Methwen, celebrado entre Portugal e Inglaterra, através do qual este país dá condições aduaneiras favoráveis à entrada dos vinhos nacionais, que o vinho do Porto passa a afirmar-se como produto de qualidade internacional, aumentando permanentemente o número de apreciadores e consumidores, não só em Inglaterra, que até 1963 foi o primeiro importador desta bebida de excepção, como em França, que ocupa presentemente esse lugar e, progressivamente, em muitos países do Mundo onde a fama deste vinho conseguiu chegar. 

Texto do Dr. Agostinho Ribeiro, Director do Museu de Lamego.

Etiquetas: Douro, Vinho, Vinho do Porto, Lamego, Varais, Vinho Cheirante, Cambres, Narrativas

Por Urban Plan, https://urbanplan.blogs.sapo.pt/6121.html, [p.05.12.2007]
Foto: Casa dos Varais, in http://www.theportuguesewine.com/
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.25.01.2021]
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LENDA DOS TÁVORAS


Távora - D. Tedo & D. Rausendo


Conta a lenda que, no século XI, dois irmãos, D. Tedo e D. Rausendo, há muito que tentavam conquistar o castelo de Paredes da Beira, que estava na posse do mouro de Lamego.

Cansados do insucesso, resolveram arquitetar um plano para a conquista definitiva da fortaleza.

Numa manhã do dia de S. João, esperaram que os mouros saíssem do castelo para se banharem nas águas do Távora, como habitualmente faziam, e entraram no castelo com o seu exército disfarçados de mouros. Mataram a maior parte dos homens que lá tinham ficado.

Apesar de terem sido avisados por alguns mouros que tinham conseguido escapar, os que festejavam no rio foram atacados e mortos por D. Tedo. O vale do rio passou a ser chamado de "Vale D'Amil" em lembrança dos mouros que tinham sido "mortos aos mil".

A lenda diz que os dois irmãos tomaram a partir da batalha o apelido de Távora, em memória do rio onde se tinha desenrolado a vitória, e adotaram nas suas armas a imagem de um golfinho sobre as ondas, simbolizando a vitória de D. Tedo.

Etiquetas: D. Tedo e D. Rausendo, Lenda dos Távoras, Mouros e Cristãos, Reconquista

In “Lenda dos Távoras”, in Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2021, https://www.infopedia.pt/$lenda-dos-tavoras, [c.26.01.2021]
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.26.01.2021]
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LAMEGO


Lamego

Pelos annos 1062, era rei de Lamego um mouro chamado Al-Boazan. Tinha uma filha, chamada Ardinga ou Ardínia, que se enamorou do cavalleiro christão, D. Thedon Ramirez (vide Granja do Tédo), filho do infante Alboazar Ramirez (o Cid) e neto de D. Ramiro II de Leão. (Vide Ancora, rio; Calle e Gaia).

Fugiu a moirinha ao pae, vestida de homem, com uma sua collaça por companheira, em busca de D. Thedon.

Chegou a uma ermida, perto do rio Tavora, que era da invocação do apostolo S. Pedro (hoje S. Pedro das Águias) e ahi, vendo um eremitão, chamado Gelasio, lhe disse quem era e a que vinha, dizendo-lhe tambem que se queria fazer christan.

O anachoreta a instruiu nos mysterios da religião christan e a baptisou promettendo-lhe que D. Thedon casaria com ella; o que não teve effeito, porque o pae veio aqui dar com ella e a matou, afogando-a no rio Tavora.

D. Thedon sentiu grande pezar pela morte de Ardinga, prometteu não casar, e cumpriu a promessa.

D’ahi a alguns annos, vindo D. Thedon de obter uma grande victoria contra os mouros, foi surprehendido por uma grande partida d’elles, que, depois de encarniçada resistencia, o mataram junto a um rio, que desde então tomou o seu nome – Thedon – que ainda conserva com pouca alteração, pois se chama Tédo.
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Etiquetas: D. Tedo e D. Rausendo, Lamego, São Domingos, Queimada Ardinga ou Ardínia, Mouros
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APL 2808 - [1]
Fonte: Pinho Leal, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de - Portugal Antigo e Moderno Lisbon, Livraria, Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873], p.Tomo IV, pp. 37-38
Local de Recolha: Lamego, Viseu

in https://lendarium.org/pt/apl/toponimos/lamego/, [r.25.01.2021][1]

[1] Arquivo Português de Lendas (APL), base de dados do CEAO - Centro de Estudos Ataíde de Oliveira, da Universidade do Algarve (PTDC/ELT/65673/2006), em www.lendarium.org
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.25.01.2021]
Imagem da Net

Foto: (c) Rui Albuquerque
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LENDA ANTIGA DE SÃO DOMINGOS DE QUEIMADA

Queimada

Quando por aqui passaram as hostes romanas de Trajano que acamparam no Castro de S. Domingos, um chefe militar ou lugar-tenente raptou, à passagem por Queimada, uma linda rapariga por quem se apaixonou. Procurou convencê-la a segui-lo para o acampamento. Renitente, acabou por ir à força.

A moça tinha sete irmãos que tentaram, em vão, defender a honra da rapariga. Presos, foram degolados. Um deles, segundo a lenda, terá sido o primitivo S. Domingos em honra do qual foi erguida a ermida, no alto do monte do mesmo nome que na altura pertencia ao termo de Queimada, e de onde se avistam os restantes seis irmãos, todos santos e cada um com a sua ermida, aquém e além Douro, como é o caso de S. Leonardo de Galafura. 
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Etiquetas: Lenda dos Sete Irmãos, Lamego, São Domingos, Queimada
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in Lenda "Defesa de Honra", por Francisco Duarte, Blogue Valdigem, https://franciscoduarte.blogs.sapo.pt/24658.html, [p.15.04.2009]
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.25.09.2020]

"Lenda antiga de São Domingos de Queimada", in Município de Armamar, https://www.cm-armamar.pt/pages/576, 
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.26.09.2020]
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LENDA DA EPOPEIA DE LICONIMARGI

Lamego

Há tanto, tanto tempo, que a memória já não consegue alcançar, perto da actual cidade de Lamego existia uma grande cidade, povoada de gente estranha e invulgar pela sua estatura. Dizem os antigos que os homens dessa tribo não mediam menos de dois metros de altura. Eram fortes, sem serem gordos, valentes sem serem duros, e cumpridores dos seus deveres, nem que para isso tivesse que correr sangue.
Entre as famílias que habitavam o local, quase todas de origem grega, destacava-se uma delas, composta de pai e sete filhos, famosos pelas suas virtudes e pela grande amizade que os unia. Porque habitavam a parte alta do monte, chamavam-lhe, precisamente — a Família do Monte.
Certa tarde, o bom do velho chamou os sete filhos, pois precisava falar-lhes. Receosos de que o pai não se sentisse bem, acorreram com evidentes sinais de ansiedade. Porém o velho sorriu e declarou-lhes:
— Meus queridos filhos! Orgulho-me de todos vós! A amizade que nos une fará de nós um grande povo. No entanto...
O velho suspendeu a frase. Seu rosto, onde um sorriso de bondade resplandecia, ensombrou-se de súbito. Fez-se silêncio por alguns segundos. Mas logo o filho mais velho quebrou esse silêncio.
— Senhor meu pai! Que vos entristece? Algum de nós teve a infelicidade de vos desagradar?
O velho meneou a cabeça negativamente, voltando a sorrir, embora com tristeza.
— Meus filhos! Como podeis desagradar-me, se sois tão bons, valentes e dedicados? O trabalho sempre vos honrou. Mas… o que o futuro possa trazer é que constitui a minha ansiedade!
Entreolharam-se os sete irmãos. E o mais velho tornou a falar.
— Algo vos preocupa? Dizei, senhor!
O velho guardou silêncio por algum tempo, olhando obstinadamente o horizonte rubro onde o Sol se escondia. Depois, num suspiro lento e fundo, esclareceu:
— O firmamento está em fogo! Parece sangue a entornar-se na terra...
— Isso vos preocupa assim? Todos os dias, no tempo quente, o Sol se põe de tal maneira que mais parece labareda...
— Mas hoje... hoje, olhando melhor todo este espaço azul... tive como que um pressentimento... Quase que uma visão!
— Assustais-nos, senhor!
— Sois todos jovens e solteiros. Todos vós tendes braços fortes para combater e coração para amar ou odiar!...
— Prefiro o amor, senhor meu pai...
— Dizeis isso com um olhar estranho. Acaso o vosso coração já escolheu esposa?
— Sim, meu pai. Julguei até que fosse esse o motivo da nossa reunião. Por isso fui buscar Maria. Ela está esperando lá fora. Se a aprovardes, casaremos. Se não for de vosso gosto... deixarei que ela parta!
— Embora devesse calcular que um homem não pode viver sem o afecto de uma mulher, tinha esquecido esse facto! Sois todos homens... tendes direito a escolher companheira. Mas atentai bem no que ides fazer! A hora é de fúria e mágoa e não de paz e amor! Mas ide buscar Maria. Quero vê-la. E se me agradar... é bom que ela também oiça o que mais tenho para vos dizer!
Saiu, solícito, o filho mais velho. Ficaram os outros seis. Voltou o pai a falar:
— E vós? Não tendes ainda feito a vossa escolha?
Um silêncio curto seguiu-se à pergunta. Mas logo o filho segundo declarou:
— Não encontrámos ainda quem possa vir a ser digna filha de santo como vós!
Sorriu, o velho. Um sorriso bondoso, discreto.
— Não sou santo, meus filhos! Sou apenas o velho Domingos do Monte, que teve a dita de conhecer a lei de um homem chamado Jesus, o qual é filho de um Deus, o único! Por ele lutaremos até ao nosso último alento! Antes, cometi muitos pecados. Não vira ainda a verdadeira luz. Mas hoje... com a graça de Deus... sou feliz!
Fez-se novo silêncio. Mas já o filho mais velho se apresentava com uma linda jovem de feições correctas, olhos grandes cor de avelã e cabelos dum castanho arruivado. Na sua expressão quase tímida recortava-se um profundo respeito e um grande carinho. Sem dominar o seu entusiasmo, o filho primogénito do velho Domingos acercou-se do pai.
— Ei-la, senhor! É linda, como vedes!
O velho sorriu. Olhou-a bem nos olhos e sentenciou:
— A sua beleza assemelha-se à de um anjo! E a sua bondade também.
A jovem corou.
— Senhor, como vos agradeço essas palavras! O meu coração quase nem batia, receosa de vos desagradar. Agora, porém, sinto-me completamente feliz!
— Sabeis qual a nossa religião?
— Sou Maria, como a Mãe de Jesus...
— Pois então dou-vos o meu consentimento e a minha bênção! Maria vale bem a vossa afeição, meu filho! Ela ser-vos-á fiel durante o resto da vossa vida e até para além da morte!
Maria beijou com arrebatamento as mãos do velho.
— Como sois bom! Razão têm os que vos chamam santo!
O homem abanou a cabeça.
— Santo não sou, embora me sentisse feliz por morrer como morrem esses santos mártires! Mas ouvi agora o que tenho a comunicar-vos.
De novo um silêncio perpassou no espaço. Com os olhos voltados para o ocidente, o velho parecia cismar. O vento, fazendo mexer a urze do monte, aromatizava a tarde com um perfume suave. E só depois desse silêncio o velho Domingos retomou a palavra, num acento grave, impressionante:
— Filhos! A hora que atravessamos é dura. As nossas terras têm sido pasto de roubo e crime, levados a cabo pelo povo invasor. Os Romanos têm vindo de vencida, e com eles as maiores das traições. É tempo de dizermos «não» ao seu imperativo destruidor. Se for necessário dar o nosso sangue pela lei de Cristo e pela nossa liberdade, não hesiteis em cumprir o vosso dever!
Pedro, o filho mais velho, arriscou:
— Temo-lo a nosso lado, meu pai! Isso bastará para que sejamos fortes!
Desta vez o velho sorriu. Na sua fronte pálida vincou-se uma forte ruga. A sua voz tornou-se mais fraca.
— Devo ainda acrescentar que pouco tempo mais terei de vida.
— Como o sabe, meu pai?
— Sei. Deus chamar-me-a no dia em que estas terras estiverem resolvidas a revoltarem-se contra a destruição dos nossos haveres e liberdade. A lei de Cristo vencerá no Mundo. Mas antes… terá de correr muito sangue! Por isso o firmamento está em fogo!
Aturdido com estas palavras em que acreditava piamente, Pedro suplicou:
— Senhor meu pai! Antes de nos deixardes, dizei-nos exactamente o que devemos fazer. Sem vós, encontrar-nos-emos vazios!
Então o velho ergueu-se e lançou a sua bênção sobre os sete filhos e sobre Maria. Depois, com voz em que se ia notando o cansaço, expôs o seu plano. Quando terminou, um dos filhos exclamou com entusiasmo:
— E venceremos, decerto!
O velho baixou a cabeça. Depois olhou o céu e murmurou quase:
— Há muita forma de vencer, meus filhos, mesmo quando aparentemente ficamos sem coisa alguma. Lutar pela lei de Cristo e morrer com glória, de forma que esse exemplo seja um grito de incentivo a outros que nos possam seguir — não é perder, é ganhar a Vida Eterna! Olhai os santos mártires. Foram supliciados e mortos. Aparentemente, dir-se-ia que os Romanos os venceram. Mas o seu gesto, a sua firmeza, a sua candura, a sua fé, continuam vivas até nos corações dos seus próprios e carrascos! Venceram, pois... e de que maneira gloriosa!
Calou-se o velho. Cada vez mais fraca, a sua voz era quase um sopro. Rodeado pelos filhos, que faziam agora esforços por conservar a calma digna do momento, o Domingos do Monte, abençoando mais uma vez os sete rapazes, ficou-se serenamente de olhar perdido, fixo, a contemplar o céu quase rubro de um esplêndido pôr de Sol!
Em silêncio, cabeças baixas, os filhos choravam. Maria, mordendo os lábios para não irromper num choro convulso, agarrou-se ao braço do seu companheiro. Então, Pedro, sentindo a pressão dos dedos nervosos da bem-amada, murmurou, numa voz a que a emoção dava maior realce:
— Morreu um santo! Há pouco parecia ainda cheio de vida! Aqui juramos cumprir o seu desejo, e ainda construir, neste mesmo local, uma pequena ermida, onde o seu corpo repouse para todo o sempre!
A cor rubra do pôr do Sol tornou-se mais escura, quase violeta. O vento fresco da tarde fez baixar em reverência as humildes ervas do monte. E a noite, na sua majestade, veio fechar esses olhos que obstinadamente olhavam ainda para o céu...

Reinava então em Roma o imperador Trajano. Havia algum tempo que a paz aparente vivia na Lusitânia. Sujeitos às leis romanas, embalados ainda pelas palavras de Octávio quando viera à Península «pregar o seu sermão», os povos oprimidos pareciam não aspirar à liberdade. Mas, de súbito, duma cidade da serra onde Viriato lançara a chama da rebelião, as cinzas mal extintas dessa ânsia de independência e o ódio mal apagado das traições que tinham sido cometidas irromperam com toda a sua chama e todo o seu vigor. Comandava a revolta um homem novo, que, ajudado pelos seis irmãos, dir-se-ia incarnar o próprio espírito lusitano.
A surpresa deixou por momentos atónitos os próprios romanos. A revolta estava bem organizada. Espalhados por diversas cidades, os irmãos mantinham vivo o esforço lusitano. Bem tentavam cercá-los os soldados de Roma, mas os pedregulhos surgiam de todos os lados. A revolta alastrava-se, e o pretor teve de enviar com urgência um emissário a Roma, pedindo reforços e ordens.
Ao saber da revolta da Lusitânia, que ele julgava já prostrada sob o seu pé de ditador, Trajano gritou.
— Quero esmagados todos esses cães! Todos! Nem que para isso tenha de deitar fogo à Península Ibérica!
Lembrando o emissário a falta de homens para combater e a ferocidade dos revoltosos, Trajano perguntou:
— Não tenho eu bastantes soldados na Espanha que possam fazer calar esse punhado de doidos?
Com serenidade, para não aumentar a cólera do imperador, o emissário retorquiu:
— Os Lusitanos têm todos a alma de Viriato.
— Que quereis dizer com isso?
— Que para cada homem precisamos nós de três...
A cólera de Trajano subiu ao rubro.
— Como tens a ousadia, tu, um romano, de fazer semelhante declaração na minha presença?
O emissário curvou a cabeça sem responder. Então, gritando, quase convulsivo, o imperador despediu-o.
— Vai! Vai e diz ao teu chefe que para sua vergonha terei de mandar catorze legiões, a fim de ser sufocada uma rebelião na Lusitânia. Mas pensai bem: quero tudo limpo! Tudo sereno! Nem que tenham de fazer da Espanha uma grande fogueira!
O cerco das legiões chegadas de Roma e de outros locais mais próximos apertava-se consideravelmente. A revolta, que parecia estar quase vingada, começou a tremular como chama de vela à corrente do ar enraivecido. Alguém viera trazer a Pedro, que chefiava Liconimargi, tristes novas sobre as outras terras. Seus irmãos tinham perecido e a revolta fora subjugada... Então Pedro voltou a olhar o céu.
— Morreremos também neste monte, tal como jurámos a meu pai! Tu, Maria, podes fugir ainda. Não quero que os romanos te encontrem!
A jovem, pálida e emagrecida, encostou-se ao braço forte do seu companheiro.
— Morrerei contigo! Deixa-me que participe dessa graça!
Já o fumo subia pela montanha. Uma grande fogueira que parecia não ter fim... Pedro exclamou:
— Senhor meu pai! Morreremos no nosso posto! E que o nosso exemplo sirva de força àqueles que vierem depois de nós!
Tragicamente, as gigantescas línguas de fogo subiam, subiam, apertando o cerco. Lá em baixo, ouvia-se a algazarra das legiões em fúria. Decerto matavam e roubavam os sitiados. No alto do monte, porém o fogo crepitava. Nuvens de fumo cresciam, tapando o Sol. A penumbra tirou o lugar à luz naquela manhã fatídica. O cheiro acre das queimadas empestava os ares. À noite, vistas de longe, as labaredas que crepita no cimo do monte dir-se-iam as chamas do próprio Inferno. Porém quando a manhã chegou, a Lusitânia estava calma. A força vencera, aparentemente. Mas o espírito desse heroísmo que ficara nos ares levado pelo vento ainda hoje se conserva, através dos séculos!...

Trajano mandou que trouxessem à sua presença o emissário que trazia novas da Lusitânia. Logo se apressaram a cumprir essa ordem. Um tanto altivo, o novo emissário encarou o seu imperador.
— Salvé, Trajano! Trago-te boas notícias.
— Que fizeram dos revoltosos?
— Mortos. Todos mortos!
— E a terra?
— Queimada! Liconimargi e os seus arredores são um montão de cinzas. Mas a rebelião findou!
Levando a mão ao queixo, Trajano teve um trejeito de indiferença, e exclamou:
— Queimada! Toda a terra queimada! Também não se deve ter perdido grande coisa!... Agora, quero confirmado o sossego na Lusitânia!
Mas pouco durou esse sossego! Os homens vivem de luta e para a luta. A ambição tolda-lhes a consciência. De novo a Lusitânia foi invadida, mas desta vez por outros povos vindos de mais longe...
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APL 2794 - [1]

Fonte: MARQUES, Gentil - Lendas de Portugal, Lisbon, Círculo de Leitores, 1997 [1962], p.Volume II, pp. 303-308
Local de recolha: Lamego, Viseu
in https://lendarium.org/pt/apl/tempo-dos-romanos/lenda-da-epopeia-de-liconimargi/, [c.25.01.2021][1]
[1] Arquivo Português de Lendas (APL), base de dados do CEAO - Centro de Estudos Ataíde de Oliveira, da Universidade do Algarve (PTDC/ELT/65673/2006), em www.lendarium.org
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.25.01.2021]
Imagem da Net
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