DESCOBERTA DO "VINHO DO PORTO" PELOS INGLESES


Douro, Lamego, Cambres


Vinho do Porto descoberto em Lamego, Cambres

Terá sido através de um mercador inglês que o depois denominado vinho do Porto passou a ser conhecido e comercializado em Inglaterra. Este mercador, sediado em Viana do Castelo, viajou, a determinada altura, por terras do Douro, tendo ficado hospedado no Convento de Santa Cruz, em Lamego. Ali foi obsequiado pelos monges, que no final de um magnífico repasto, foi brindado com um saboroso vinho de sobremesa "entre ambarado e fogo, que a Ordem colhia num seu couto ou quinta ribeirinha do Douro". Este inglês,"estarrecido" com tal bebida, pois nunca tinha provado coisa melhor na vida, depressa tornou a Lamego para "comprar alguns almudes do precioso néctar". Assim se terá começado a conhecer o vinho generoso de Lamego que, pelo rio Douro abaixo, era desembarcado em Vila Nova de Gaia, para, depois de devidamente tratado, ser exportado para o estrangeiro. Daqui também o nome porque ficou, durante algum tempo, conhecido - Vinho de embarque - cuja verdadeira expansão se inicia, em grande escala, na segunda metade do séc. XVII.

É já no século XVIII, com o Tratado de Methwen, celebrado entre Portugal e Inglaterra, através do qual este país dá condições aduaneiras favoráveis à entrada dos vinhos nacionais, que o vinho do Porto passa a afirmar-se como produto de qualidade internacional, aumentando permanentemente o número de apreciadores e consumidores, não só em Inglaterra, que até 1963 foi o primeiro importador desta bebida de excepção, como em França, que ocupa presentemente esse lugar e, progressivamente, em muitos países do Mundo onde a fama deste vinho conseguiu chegar. 

Texto do Dr. Agostinho Ribeiro, Director do Museu de Lamego.

Etiquetas: Douro, Vinho, Vinho do Porto, Lamego, Varais, Vinho Cheirante, Cambres, Narrativas

Por Urban Plan, https://urbanplan.blogs.sapo.pt/6121.html, [p.05.12.2007]
Foto: Casa dos Varais, in http://www.theportuguesewine.com/
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.25.01.2021]
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LENDAS E NARRATIVAS D'OURO
COLECTÂNEA - RECOLHA

[Lamego, Cambres]

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“Se não defendermos o que é nosso, quem é que o defende?”

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Eduardo José Monteiro deQueiroz
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LENDA DOS TÁVORAS


Távora - D. Tedo & D. Rausendo


Conta a lenda que, no século XI, dois irmãos, D. Tedo e D. Rausendo, há muito que tentavam conquistar o castelo de Paredes da Beira, que estava na posse do mouro de Lamego.

Cansados do insucesso, resolveram arquitetar um plano para a conquista definitiva da fortaleza.

Numa manhã do dia de S. João, esperaram que os mouros saíssem do castelo para se banharem nas águas do Távora, como habitualmente faziam, e entraram no castelo com o seu exército disfarçados de mouros. Mataram a maior parte dos homens que lá tinham ficado.

Apesar de terem sido avisados por alguns mouros que tinham conseguido escapar, os que festejavam no rio foram atacados e mortos por D. Tedo. O vale do rio passou a ser chamado de "Vale D'Amil" em lembrança dos mouros que tinham sido "mortos aos mil".

A lenda diz que os dois irmãos tomaram a partir da batalha o apelido de Távora, em memória do rio onde se tinha desenrolado a vitória, e adotaram nas suas armas a imagem de um golfinho sobre as ondas, simbolizando a vitória de D. Tedo.

Etiquetas: D. Tedo e D. Rausendo, Lenda dos Távoras, Mouros e Cristãos, Reconquista

In “Lenda dos Távoras”, in Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2021, https://www.infopedia.pt/$lenda-dos-tavoras, [c.26.01.2021]
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.26.01.2021]
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LAMEGO


Lamego

Pelos annos 1062, era rei de Lamego um mouro chamado Al-Boazan. Tinha uma filha, chamada Ardinga ou Ardínia, que se enamorou do cavalleiro christão, D. Thedon Ramirez (vide Granja do Tédo), filho do infante Alboazar Ramirez (o Cid) e neto de D. Ramiro II de Leão. (Vide Ancora, rio; Calle e Gaia).

Fugiu a moirinha ao pae, vestida de homem, com uma sua collaça por companheira, em busca de D. Thedon.

Chegou a uma ermida, perto do rio Tavora, que era da invocação do apostolo S. Pedro (hoje S. Pedro das Águias) e ahi, vendo um eremitão, chamado Gelasio, lhe disse quem era e a que vinha, dizendo-lhe tambem que se queria fazer christan.

O anachoreta a instruiu nos mysterios da religião christan e a baptisou promettendo-lhe que D. Thedon casaria com ella; o que não teve effeito, porque o pae veio aqui dar com ella e a matou, afogando-a no rio Tavora.

D. Thedon sentiu grande pezar pela morte de Ardinga, prometteu não casar, e cumpriu a promessa.

D’ahi a alguns annos, vindo D. Thedon de obter uma grande victoria contra os mouros, foi surprehendido por uma grande partida d’elles, que, depois de encarniçada resistencia, o mataram junto a um rio, que desde então tomou o seu nome – Thedon – que ainda conserva com pouca alteração, pois se chama Tédo.
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Etiquetas: D. Tedo e D. Rausendo, Lamego, São Domingos, Queimada Ardinga ou Ardínia, Mouros
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APL 2808 - [1]
Fonte: Pinho Leal, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de - Portugal Antigo e Moderno Lisbon, Livraria, Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873], p.Tomo IV, pp. 37-38
Local de Recolha: Lamego, Viseu

in https://lendarium.org/pt/apl/toponimos/lamego/, [r.25.01.2021][1]

[1] Arquivo Português de Lendas (APL), base de dados do CEAO - Centro de Estudos Ataíde de Oliveira, da Universidade do Algarve (PTDC/ELT/65673/2006), em www.lendarium.org
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.25.01.2021]
Imagem da Net

Foto: (c) Rui Albuquerque
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LENDA ANTIGA DE SÃO DOMINGOS DE QUEIMADA

Queimada

Quando por aqui passaram as hostes romanas de Trajano que acamparam no Castro de S. Domingos, um chefe militar ou lugar-tenente raptou, à passagem por Queimada, uma linda rapariga por quem se apaixonou. Procurou convencê-la a segui-lo para o acampamento. Renitente, acabou por ir à força.

A moça tinha sete irmãos que tentaram, em vão, defender a honra da rapariga. Presos, foram degolados. Um deles, segundo a lenda, terá sido o primitivo S. Domingos em honra do qual foi erguida a ermida, no alto do monte do mesmo nome que na altura pertencia ao termo de Queimada, e de onde se avistam os restantes seis irmãos, todos santos e cada um com a sua ermida, aquém e além Douro, como é o caso de S. Leonardo de Galafura. 
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Etiquetas: Lenda dos Sete Irmãos, Lamego, São Domingos, Queimada
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in Lenda "Defesa de Honra", por Francisco Duarte, Blogue Valdigem, https://franciscoduarte.blogs.sapo.pt/24658.html, [p.15.04.2009]
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.25.09.2020]

"Lenda antiga de São Domingos de Queimada", in Município de Armamar, https://www.cm-armamar.pt/pages/576, 
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.26.09.2020]
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LENDA DA EPOPEIA DE LICONIMARGI

Lamego

Há tanto, tanto tempo, que a memória já não consegue alcançar, perto da actual cidade de Lamego existia uma grande cidade, povoada de gente estranha e invulgar pela sua estatura. Dizem os antigos que os homens dessa tribo não mediam menos de dois metros de altura. Eram fortes, sem serem gordos, valentes sem serem duros, e cumpridores dos seus deveres, nem que para isso tivesse que correr sangue.
Entre as famílias que habitavam o local, quase todas de origem grega, destacava-se uma delas, composta de pai e sete filhos, famosos pelas suas virtudes e pela grande amizade que os unia. Porque habitavam a parte alta do monte, chamavam-lhe, precisamente — a Família do Monte.
Certa tarde, o bom do velho chamou os sete filhos, pois precisava falar-lhes. Receosos de que o pai não se sentisse bem, acorreram com evidentes sinais de ansiedade. Porém o velho sorriu e declarou-lhes:
— Meus queridos filhos! Orgulho-me de todos vós! A amizade que nos une fará de nós um grande povo. No entanto...
O velho suspendeu a frase. Seu rosto, onde um sorriso de bondade resplandecia, ensombrou-se de súbito. Fez-se silêncio por alguns segundos. Mas logo o filho mais velho quebrou esse silêncio.
— Senhor meu pai! Que vos entristece? Algum de nós teve a infelicidade de vos desagradar?
O velho meneou a cabeça negativamente, voltando a sorrir, embora com tristeza.
— Meus filhos! Como podeis desagradar-me, se sois tão bons, valentes e dedicados? O trabalho sempre vos honrou. Mas… o que o futuro possa trazer é que constitui a minha ansiedade!
Entreolharam-se os sete irmãos. E o mais velho tornou a falar.
— Algo vos preocupa? Dizei, senhor!
O velho guardou silêncio por algum tempo, olhando obstinadamente o horizonte rubro onde o Sol se escondia. Depois, num suspiro lento e fundo, esclareceu:
— O firmamento está em fogo! Parece sangue a entornar-se na terra...
— Isso vos preocupa assim? Todos os dias, no tempo quente, o Sol se põe de tal maneira que mais parece labareda...
— Mas hoje... hoje, olhando melhor todo este espaço azul... tive como que um pressentimento... Quase que uma visão!
— Assustais-nos, senhor!
— Sois todos jovens e solteiros. Todos vós tendes braços fortes para combater e coração para amar ou odiar!...
— Prefiro o amor, senhor meu pai...
— Dizeis isso com um olhar estranho. Acaso o vosso coração já escolheu esposa?
— Sim, meu pai. Julguei até que fosse esse o motivo da nossa reunião. Por isso fui buscar Maria. Ela está esperando lá fora. Se a aprovardes, casaremos. Se não for de vosso gosto... deixarei que ela parta!
— Embora devesse calcular que um homem não pode viver sem o afecto de uma mulher, tinha esquecido esse facto! Sois todos homens... tendes direito a escolher companheira. Mas atentai bem no que ides fazer! A hora é de fúria e mágoa e não de paz e amor! Mas ide buscar Maria. Quero vê-la. E se me agradar... é bom que ela também oiça o que mais tenho para vos dizer!
Saiu, solícito, o filho mais velho. Ficaram os outros seis. Voltou o pai a falar:
— E vós? Não tendes ainda feito a vossa escolha?
Um silêncio curto seguiu-se à pergunta. Mas logo o filho segundo declarou:
— Não encontrámos ainda quem possa vir a ser digna filha de santo como vós!
Sorriu, o velho. Um sorriso bondoso, discreto.
— Não sou santo, meus filhos! Sou apenas o velho Domingos do Monte, que teve a dita de conhecer a lei de um homem chamado Jesus, o qual é filho de um Deus, o único! Por ele lutaremos até ao nosso último alento! Antes, cometi muitos pecados. Não vira ainda a verdadeira luz. Mas hoje... com a graça de Deus... sou feliz!
Fez-se novo silêncio. Mas já o filho mais velho se apresentava com uma linda jovem de feições correctas, olhos grandes cor de avelã e cabelos dum castanho arruivado. Na sua expressão quase tímida recortava-se um profundo respeito e um grande carinho. Sem dominar o seu entusiasmo, o filho primogénito do velho Domingos acercou-se do pai.
— Ei-la, senhor! É linda, como vedes!
O velho sorriu. Olhou-a bem nos olhos e sentenciou:
— A sua beleza assemelha-se à de um anjo! E a sua bondade também.
A jovem corou.
— Senhor, como vos agradeço essas palavras! O meu coração quase nem batia, receosa de vos desagradar. Agora, porém, sinto-me completamente feliz!
— Sabeis qual a nossa religião?
— Sou Maria, como a Mãe de Jesus...
— Pois então dou-vos o meu consentimento e a minha bênção! Maria vale bem a vossa afeição, meu filho! Ela ser-vos-á fiel durante o resto da vossa vida e até para além da morte!
Maria beijou com arrebatamento as mãos do velho.
— Como sois bom! Razão têm os que vos chamam santo!
O homem abanou a cabeça.
— Santo não sou, embora me sentisse feliz por morrer como morrem esses santos mártires! Mas ouvi agora o que tenho a comunicar-vos.
De novo um silêncio perpassou no espaço. Com os olhos voltados para o ocidente, o velho parecia cismar. O vento, fazendo mexer a urze do monte, aromatizava a tarde com um perfume suave. E só depois desse silêncio o velho Domingos retomou a palavra, num acento grave, impressionante:
— Filhos! A hora que atravessamos é dura. As nossas terras têm sido pasto de roubo e crime, levados a cabo pelo povo invasor. Os Romanos têm vindo de vencida, e com eles as maiores das traições. É tempo de dizermos «não» ao seu imperativo destruidor. Se for necessário dar o nosso sangue pela lei de Cristo e pela nossa liberdade, não hesiteis em cumprir o vosso dever!
Pedro, o filho mais velho, arriscou:
— Temo-lo a nosso lado, meu pai! Isso bastará para que sejamos fortes!
Desta vez o velho sorriu. Na sua fronte pálida vincou-se uma forte ruga. A sua voz tornou-se mais fraca.
— Devo ainda acrescentar que pouco tempo mais terei de vida.
— Como o sabe, meu pai?
— Sei. Deus chamar-me-a no dia em que estas terras estiverem resolvidas a revoltarem-se contra a destruição dos nossos haveres e liberdade. A lei de Cristo vencerá no Mundo. Mas antes… terá de correr muito sangue! Por isso o firmamento está em fogo!
Aturdido com estas palavras em que acreditava piamente, Pedro suplicou:
— Senhor meu pai! Antes de nos deixardes, dizei-nos exactamente o que devemos fazer. Sem vós, encontrar-nos-emos vazios!
Então o velho ergueu-se e lançou a sua bênção sobre os sete filhos e sobre Maria. Depois, com voz em que se ia notando o cansaço, expôs o seu plano. Quando terminou, um dos filhos exclamou com entusiasmo:
— E venceremos, decerto!
O velho baixou a cabeça. Depois olhou o céu e murmurou quase:
— Há muita forma de vencer, meus filhos, mesmo quando aparentemente ficamos sem coisa alguma. Lutar pela lei de Cristo e morrer com glória, de forma que esse exemplo seja um grito de incentivo a outros que nos possam seguir — não é perder, é ganhar a Vida Eterna! Olhai os santos mártires. Foram supliciados e mortos. Aparentemente, dir-se-ia que os Romanos os venceram. Mas o seu gesto, a sua firmeza, a sua candura, a sua fé, continuam vivas até nos corações dos seus próprios e carrascos! Venceram, pois... e de que maneira gloriosa!
Calou-se o velho. Cada vez mais fraca, a sua voz era quase um sopro. Rodeado pelos filhos, que faziam agora esforços por conservar a calma digna do momento, o Domingos do Monte, abençoando mais uma vez os sete rapazes, ficou-se serenamente de olhar perdido, fixo, a contemplar o céu quase rubro de um esplêndido pôr de Sol!
Em silêncio, cabeças baixas, os filhos choravam. Maria, mordendo os lábios para não irromper num choro convulso, agarrou-se ao braço do seu companheiro. Então, Pedro, sentindo a pressão dos dedos nervosos da bem-amada, murmurou, numa voz a que a emoção dava maior realce:
— Morreu um santo! Há pouco parecia ainda cheio de vida! Aqui juramos cumprir o seu desejo, e ainda construir, neste mesmo local, uma pequena ermida, onde o seu corpo repouse para todo o sempre!
A cor rubra do pôr do Sol tornou-se mais escura, quase violeta. O vento fresco da tarde fez baixar em reverência as humildes ervas do monte. E a noite, na sua majestade, veio fechar esses olhos que obstinadamente olhavam ainda para o céu...

Reinava então em Roma o imperador Trajano. Havia algum tempo que a paz aparente vivia na Lusitânia. Sujeitos às leis romanas, embalados ainda pelas palavras de Octávio quando viera à Península «pregar o seu sermão», os povos oprimidos pareciam não aspirar à liberdade. Mas, de súbito, duma cidade da serra onde Viriato lançara a chama da rebelião, as cinzas mal extintas dessa ânsia de independência e o ódio mal apagado das traições que tinham sido cometidas irromperam com toda a sua chama e todo o seu vigor. Comandava a revolta um homem novo, que, ajudado pelos seis irmãos, dir-se-ia incarnar o próprio espírito lusitano.
A surpresa deixou por momentos atónitos os próprios romanos. A revolta estava bem organizada. Espalhados por diversas cidades, os irmãos mantinham vivo o esforço lusitano. Bem tentavam cercá-los os soldados de Roma, mas os pedregulhos surgiam de todos os lados. A revolta alastrava-se, e o pretor teve de enviar com urgência um emissário a Roma, pedindo reforços e ordens.
Ao saber da revolta da Lusitânia, que ele julgava já prostrada sob o seu pé de ditador, Trajano gritou.
— Quero esmagados todos esses cães! Todos! Nem que para isso tenha de deitar fogo à Península Ibérica!
Lembrando o emissário a falta de homens para combater e a ferocidade dos revoltosos, Trajano perguntou:
— Não tenho eu bastantes soldados na Espanha que possam fazer calar esse punhado de doidos?
Com serenidade, para não aumentar a cólera do imperador, o emissário retorquiu:
— Os Lusitanos têm todos a alma de Viriato.
— Que quereis dizer com isso?
— Que para cada homem precisamos nós de três...
A cólera de Trajano subiu ao rubro.
— Como tens a ousadia, tu, um romano, de fazer semelhante declaração na minha presença?
O emissário curvou a cabeça sem responder. Então, gritando, quase convulsivo, o imperador despediu-o.
— Vai! Vai e diz ao teu chefe que para sua vergonha terei de mandar catorze legiões, a fim de ser sufocada uma rebelião na Lusitânia. Mas pensai bem: quero tudo limpo! Tudo sereno! Nem que tenham de fazer da Espanha uma grande fogueira!
O cerco das legiões chegadas de Roma e de outros locais mais próximos apertava-se consideravelmente. A revolta, que parecia estar quase vingada, começou a tremular como chama de vela à corrente do ar enraivecido. Alguém viera trazer a Pedro, que chefiava Liconimargi, tristes novas sobre as outras terras. Seus irmãos tinham perecido e a revolta fora subjugada... Então Pedro voltou a olhar o céu.
— Morreremos também neste monte, tal como jurámos a meu pai! Tu, Maria, podes fugir ainda. Não quero que os romanos te encontrem!
A jovem, pálida e emagrecida, encostou-se ao braço forte do seu companheiro.
— Morrerei contigo! Deixa-me que participe dessa graça!
Já o fumo subia pela montanha. Uma grande fogueira que parecia não ter fim... Pedro exclamou:
— Senhor meu pai! Morreremos no nosso posto! E que o nosso exemplo sirva de força àqueles que vierem depois de nós!
Tragicamente, as gigantescas línguas de fogo subiam, subiam, apertando o cerco. Lá em baixo, ouvia-se a algazarra das legiões em fúria. Decerto matavam e roubavam os sitiados. No alto do monte, porém o fogo crepitava. Nuvens de fumo cresciam, tapando o Sol. A penumbra tirou o lugar à luz naquela manhã fatídica. O cheiro acre das queimadas empestava os ares. À noite, vistas de longe, as labaredas que crepita no cimo do monte dir-se-iam as chamas do próprio Inferno. Porém quando a manhã chegou, a Lusitânia estava calma. A força vencera, aparentemente. Mas o espírito desse heroísmo que ficara nos ares levado pelo vento ainda hoje se conserva, através dos séculos!...

Trajano mandou que trouxessem à sua presença o emissário que trazia novas da Lusitânia. Logo se apressaram a cumprir essa ordem. Um tanto altivo, o novo emissário encarou o seu imperador.
— Salvé, Trajano! Trago-te boas notícias.
— Que fizeram dos revoltosos?
— Mortos. Todos mortos!
— E a terra?
— Queimada! Liconimargi e os seus arredores são um montão de cinzas. Mas a rebelião findou!
Levando a mão ao queixo, Trajano teve um trejeito de indiferença, e exclamou:
— Queimada! Toda a terra queimada! Também não se deve ter perdido grande coisa!... Agora, quero confirmado o sossego na Lusitânia!
Mas pouco durou esse sossego! Os homens vivem de luta e para a luta. A ambição tolda-lhes a consciência. De novo a Lusitânia foi invadida, mas desta vez por outros povos vindos de mais longe...
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APL 2794 - [1]

Fonte: MARQUES, Gentil - Lendas de Portugal, Lisbon, Círculo de Leitores, 1997 [1962], p.Volume II, pp. 303-308
Local de recolha: Lamego, Viseu
in https://lendarium.org/pt/apl/tempo-dos-romanos/lenda-da-epopeia-de-liconimargi/, [c.25.01.2021][1]
[1] Arquivo Português de Lendas (APL), base de dados do CEAO - Centro de Estudos Ataíde de Oliveira, da Universidade do Algarve (PTDC/ELT/65673/2006), em www.lendarium.org
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.25.01.2021]
Imagem da Net
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A CRUZ DO PEDRO


Fontelas


Nas minhas duas caminhadas de reconhecimento pelo Monte Moirinho, ou Mourinho, cujo cume e caminho (antiga estrada medieval do Moirinho, ou Mourinho) servem, em parte da sua extensão, como delimitação de fronteira entre os Concelhos de Peso da Régua e Mesão Frio, entre as Freguesias de Fontelas e Oliveira, Loureiro e Moura Morta, reparei que no Caminho de Pensais, que liga o Paço de Fontelas ao Pinheiro Manso, existe por cima da Quinta Além da Fonte uma Cruz gravada em alto relevo em duas pedras de xisto, que por sua vez estão incluídas num muro de pedra seca, também em xisto. 

Essa cruz tem na base a inscrição “PADRE ИOSSO”, exatamente com o “N” ao contrário, assim: “И”.


Nas imediações dessa cruz, mais abaixo, para quem desce o referido Caminho de Pensais, existe outra pedra, mais pequena, muito próximo da base do caminho, com a inscrição “ANO I80I”.


Fiquei intrigado sobre qual seria o significado da referida cruz e das inscrições.

Após tentar saber sobre o assunto, eis que o senhor Alfredo José Elias Pereira, vizinho de Fontelas, conhecedor de muitas estórias, e até histórias, da sua terra, me contou o seguinte:

“É a Cruz do Pedro, nesse sítio foi assassinado o Pedro. Os meus avós tinham mais acima uma vinha e então eles e a gente do povo contavam isso, que naquele sítio tinham matado um homem, que ele se chamava Pedro, e por esse motivo lhe chamam a Cruz do Pedro, já lá vão muitos anos. E lhe fizeram aquela Cruz em memória. Lembro-me a minha avó sempre que lá passava rezava um Pai-Nosso; segundo ela me contou o homem estava a defecar e alguém lhe atirou como uma pedra em cima” da cabeça, matando-o! 

Segundo a tradição, as pessoas que lá passam devem parar e rezar um Pai-Nosso pela alma do Pedro.


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in AmigosDeFontelas1905 | Facebook, https://www.facebook.com/groups/802364846619676,
Alfredo José Elias Pereira | Facebook, @alfredo.joseeliaspereira

Recolhido por Monteiro deQueiroz, [r.10.12.2021]
Fotos de Monteiro deQueiroz
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A AVAREZA QUE SE TRANSFORMA EM TRAIÇÃO

Galafura
[Pensava-se, antigamente, que se uma pessoa tivesse o mesmo sonho três vezes seguidas esse sonho se tornava realidade.]

Os nossos antepassados, não de anos muito longínquos, viviam as suas vidas os seus serões de forma muito sábia e saudável.

Não havia televisão ou as que existiam, mais recentemente, eram escassas e os serões serviam para os mais velhos contarem aos seus descendentes histórias / estórias que vivenciaram ou ouviram de seus ancestrais, algumas que estes acreditavam ter algo de real… Contavam que sonhando três noites consecutivas com uma mesma coisa, de forma muito clara… esse facto ou outro existia e ou aconteceria mesmo…

Lembro que o meu avô materno, homem sem estudos mas com grande sabedoria, nos contava que em tempos havia sonhado várias noites seguidas que num lugar, há muito esquecido, tinha existido uma casa, onde ainda permaneciam vestígios da sua existência; que de baixo de uma grande pedra, que seria a soleira de entrada dessa casa, lá bem enterrado, se encontrava algo de valor… um tesouro. 

Contava o meu avô que temeu tomar a decisão de lá ir sozinho. Pois segundo ele, só lá poderiam ir a altas horas da noite. Contou a um familiar que prometeu guardar segredo e combinaram ir lá os dois… Só que tal como nos dias de hoje a avareza e traição foi mais forte… e esse familiar foi lá antes… Conta o povo que esse familiar encontrou um pote com muitas libras em ouro e ficou muito bem de vida… 

Esta estória, assim como outras contadas pelos nossos ancestrais, não podem ser comprovadas, mas eram, no passado ainda bem recente, e ainda hoje, pelos nossos concidadãos mais idosos, ou residentes nas aldeias do interior, ou até menos instruídos, como se tratando de vivências reais… de histórias realmente acontecidas.
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Informante: Anabela Morais | Facebook, @anabela.morais.9, 52 anos, de Vila Marim e Vila Jusã; de São Miguel de Lobrigos. Estórias/lendas do meu avô materno, Albino Gomes, o "Galafura", natural de Galafura, Concelho do Peso da Régua.

Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.23.jan.2021]
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LENDA DOS 3 RIOS II


Rios Douro, Tejo, Guadiana


Onde se conta a história da formação dos três maiores rios ibéricos: o Douro, o Tejo e o Guadiana eram apenas três pequenos riachos. Até que um dia tiveram uma ideia. 

Não sabemos ao certo quando aconteceu, mas foi certamente já depois do quarto dia da criação, feitas que estavam as águas e a terra e povoadas de cetáceos e aves. 

O Tejo, o Douro e o Guadiana eram não mais do que três pequenos riachos amigos contentes com a vida que levavam. Um dia visitou-os uma gaivota e contou-lhes histórias de um mundo que já era grande. E disse-lhes da vastidão dos azuis que se viam quando a terra acabava lá para os lados do ocidente. 

Os três pequenos riachos pasmaram. “Tanto azul! ” Um espanto que se entende. Só conheciam o azul do céu, que naqueles primeiros dias ainda não tinha ficado cinzento, o castanho da terra e o verde das plantas que ainda não tinham florido. 

A vastidão dos azuis, os tons do mar a fundirem-se com os do céu, estimularam-lhes a imaginação. Sabemos que o tempo geológico é muito diferente do humano, e tudo se conta por milhões de anos. Mas naqueles tempos era diferente, e três riachos já com dois dias nos primeiros tempos da criação podem ser considerados adolescentes. E sabemos como os jovens podem ser voluntariosos. 

Ao cair da noite, o Tejo, o Douro e o Guadiana conversaram sobre o mundo que não conheciam e sobre a grande aventura que seria a viagem até ao mar. Davam força uns aos outros. A imaginação a voar impedia o sono de chegar e, puxa por este, dá força àquele, combinaram que pela manhã iriam partir à descoberta do mar e que veriam qual seria o primeiro a chegar. 

Deus tinha nesse dia criado os luzeiros no céu, o sol e a lua, o dia e a noite. E quando amanheceu, o Guadiana foi o primeiro a acordar. Tentou, sem êxito, que os dois outros rios acordassem e, como não conseguiu, fez-se sozinho ao caminho. 

Olhou para o terreno e virou a sul, correndo indolentemente pelas planícies alentejanas e os vales algarvios. Às tantas, viu o caminho estreitar-se e teve mesmo de dar um salto. Mais tarde, os humanos chamar-lhe-iam Pulo do Lobo, ali ao pé do que seria Mértola, mas o mais certo seria ter-lhe chamado Pulo do Rio, porque sabemos que foi este o primeiro a dar o salto, muito mais difícil do que o que ficou célebre. Porque o lobo só teve de dar balanço para atravessar o rio, e o Guadiana ousou lançar-se até lá abaixo. 

Depois deste pequeno incidente, a viagem decorreu tranquila até que pela primeira vez o Guadiana viu o mar e fez um último esforço para o abraçar. 

O segundo a acordar foi o Tejo. Viu que o Guadiana já tinha partido e lançando um último olhar de adeus ao Douro pôs-se a caminho. Foi correndo veloz pelos vales até que encontrou as portas que abriam um caminho mais tranquilo. Pediu licença e abriu-as de par em par. Uma eternidade depois, chamar-lhes-iam Portas de Ródão. A partir daqui foi com mais calma, olhando tudo à sua volta e cumprimentando os grifos e as aves de rapina que já por lá se viam. 

O Tejo, depois, espraiou-se pelas lezírias ribatejanas e quando viu o mar ficou tão contente que quase se fez mar ele próprio, alargando até mais não poder e tornando-se quase adulto. 

O Douro fora o que mais excitado ficara com a expetativa da grande aventura. Adormeceu tarde e tarde acordou. E quando o fez e viu que já estava sozinho atalhou a direito, sem olhar a caminho. Percorreu veloz o caminho que o levava ao mar, escolhendo cada passo a dar com a única preocupação de chegar. Se tivesse acordado cedo, teria tido tempo para apreciar a bela paisagem dos montes a que a sua água daria vida. Mas não acordou, e por isso foi sempre numa correria, sempre rodeado de montes e colinas, até finalmente encontrar o mar. 

Há quem diga que apesar de ter acordado tarde, o Douro foi o primeiro a ver o mar. Outros dizem que não. Mas a verdade é que a única testemunha seria a gaivota, que não conseguiu acompanhar o ritmo dos três riachos feitos rios. 

E se alguém vos disser que sabe com certeza de coisa vivida qual dos 3 rios primeiro chegou é caso de desconfiar, porque o homem só foi criado um dia depois desta grande aventura em direção ao mar.
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Por JORGE MONTEZ, in Portugal de Lés a Lés, https://portugaldelesales.pt/a-lenda-dos-3-rios/
Recolhida por Monteiro deQueiroz, [r.23.jan.2021]

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LENDA DOS TRÊS RIOS I


Rios Douro, Tejo e Guadiana


Era uma vez três rios que nasceram em Espanha. Chamavam-se Douro, Tejo e Guadiana. Um dia estavam a contemplar as nuvens e perguntaram-lhes de onde vinham. -Vimos do mar, responderam elas.

Do mar! Onde fica o mar? Será longe? Será grande? Vamos vê-lo?

Combinaram na manhã seguinte ir ver o mar, mas o Douro como era o mais reguila, propôs que fizessem uma corrida para ver quem chegava mais depressa.

Na manhã seguinte o Guadiana foi o primeiro acordar e lá vai ele calmamente, contemplando as belezas que o espreitavam e escolhendo os caminhos por onde passava. Chegando a Vila Real de Santo António parou maravilhado.

O segundo acordar foi o Tejo. Já o sol ia alto. Começou andar depressa quase nem escolhendo o caminho, mas quando entrou em Portugal, pensou que já levava muito avanço e lembrou-se de apreciar as campinas e os Montes, espreguiçando-se nas margens planas, antes de se lançar no mar.

O Douro, dorminhoco, quando acordou e se viu só, nem esfregou os olhos. Partiu à pressa por desfiladeiros e precipícios, não escolhendo caminho, nem gozando a natureza.

Mas desta forma, muito sujo e enlameado, foi o primeiro a chegar ao mar e assim ganhou a corrida.

É por isso que é o mais tortuoso.
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Informante: prof. Aurora Carvalho | Facebook, de Fontelas, @aurora.vieira.10, [22.jan.2021]
Recolha de Monteiro deQueiroz, [r.22.jan.2021]
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LENDA DA PLANTAÇÃO DA PRIMEIRA VINHA NO DOURO

Imagem 1
LENDA DE SANTA MARTA
Painel central do vitral existente na Casa do Douro, Peso da Régua

Santa Marta de Penaguião - São Miguel de Lobrigos

[LENDA-NARRATIVA FICCIONADA DE AUTOR]

Reza a lenda que num belo dia, em plena Idade Média, um nobre cavaleiro francês, o Conde de Guião, que andava em campanhas por Terras do Douro e Marão, mandou queimar uma capela localizada algures nas terras montanhosas de Pinna Guian.

Após ter cometido tão grande sacrilégio apareceu-lhe Santa Marta. O Conde, envergonhado, não quis enfrentar a Santa, rodopiou levemente sobre si para a esquerda e tapou a face com a mão direita.

A Santa questionou o Conde pela sua afronta e sentenciou-lhe um castigo: a partir daquela data iria plantar uma vinha de raiz e cuidar dela. Deixava assim de ser um nobre guerreiro e passaria a ser um simples vitivinicultor, um homem do povo.

Arrependido e humilhado, o Conde destapou os olhos e reparou que tinha a seus pés um corvo, ave profética e sagrada, símbolo do mal.

Virando-se para a cultura da vinha a fim de cumprir a pena que lhe fora sentenciada, o Conde, agora o "Vitivinicultor Guião", foi cumprindo, contrariado, ao longo dos anos e até ao fim da sua vida a sua dura penitência. Antes nada tinha produzido para além de guerrear, matar e saquear. E granjear a vinha é duro! Só mesmo quem conhece do ofício é que sabe! Três meses de Inverno e nove de Inferno, assim fala o povo destas paragens. E trabalhar durante o inverno, e no inferno, não é "pera doce" nem para qualquer um!

No fim da sua primeira vindima, ao ver o fruto do seu trabalho, a Guião até os olhos se lhe brilharam de felicidade. Pela primeira vez via o produto do seu árduo, duro e justo trabalho de anos: os cachos de uvas da sua vinha; o resultado do seu suor. E uma vinha não produz logo no seu primeiro ano.

Entretanto, a capela antes incendiada já tinha sido reconstruída. Guião ofereceu então, reconhecido, à Santa as primeiras uvas da sua primeira vindima, fruto do seu trabalho, produto do cumprimento da sua pena. Dessa forma, Guião, agradecia e pedia também à Santa o seu perdão final. 

O Conde estava perdoado. A Santa tinha-o perdoado. Podia então morrer em paz.

Eis então que desaparece o corvo, símbolo do mal, dando lugar a três pombas brancas e a um cordeiro que representam a paz e a pureza, símbolos do bem.

Diz o povo destas paragens que o Conde de Guião foi o primeiro homem a granjear a vinha na região, que, séculos mais tarde, se veio a tornar na primeira região demarcada vitivinícola do mundo: a Região Demarcada do Douro. 

Os durienses, aqueles que trabalharam e ainda trabalham a vinha, foram e ainda são os verdadeiros herdeiros do Conde de Guião. E não se esqueceram dele: todos os anos, no seu feriado municipal, os santa-martenses costumam representar a sua "Lenda Fundacional" ao ar livre na Praça Principal da Vila, junto ao Edifício Municipal; e há quem afirme que este será o resultado da evolução, somando os melhoramentos aos aumentos, durante séculos, do inicial "abrigo" do Vitivinicultor Guião. Talvez parte das suas fundações sejam ainda os alicerces originais do Palácio do Conde de Guião, de Guion, ou de Guillon, conforme as versões. Será a evolução do antigo "palacio francisco" dos tempos de El-Rei Dom Afonso Henriques?

Esta lenda encontra-se representada no painel central do vitral existente na Casa dos Durienses Vitivinicultores, sita na Cidade do "Peso da Régua, Capital do Douro e Cidade do Vinho" - Imagem 1.


Imagem 2
Parte do vitral, lado esquerdo do painel central, onde estão representados
a Capela a arder, Santa Marta, o Conde de Guião e o corvo.

Imagem 3
Parte do vitral, lado direito do painel central, onde estão representados
o Conde de Guião a oferecer as uvas à Santa, o Cordeiro e as 3 pombas.

Adaptação de Monteiro deQueiroz, [dia 21, ano 21, séc. 21]
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Nota 1: “Pinna Guian”
In delimitação do Couto da Albergaria do Marão, criado em Março de 1134 por D. Afonso Henriques, doc. do Arquivo Distrital de Braga, Gaveta de Coutos e Honras, n.º 2. / por PARENTE, João, Idade Média no Distrito de Vila Real, Tomo I, pág 101.
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Nota 2: Monte Penaguião = Fraga da Ermida / Marão
In Dei nomine. Ego rex domnus Sancius una cum filiis et filiabus meis facio tibi Bono Homini kartam de hereditate mea propria quam habeo in Pena Guian. Et est pernominata illa heremita de subtus monte Pena Guian quomodo diuidit cum Ferraria et de alia parte cum populatione de Fontes et de Crastelo et de Tauuadelo.” In Documentos de D. Sancho I, n.º 143, pp. 222 e 223. Chancelaria de D. Afonso III, livro 2, f. 30 v. / por PARENTE, João, Idade Média no Distrito de Vila Real, Tomo I, pág 201. 
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Nota 3: Conde de Guião 
3.a. Conde de Guião:
Não se conhece, que se saiba, quaisquer referências históricas ao Conde de Guião, também escriturado Guion ou Guillon, se seria realmente este o seu nome, se era de origem francesa ou até sequer se alguma vez existiu. Que tenhamos conseguido apurar, nem se sabe como surgiu a forma Guillon. Também não se sabe se se trata de um nome próprio ou de um apelido de família.

3.b. Sabemos que acompanhando o Conde Dom Henrique da Borgonha, mais tarde Conde de Portucale, pai do rei Dom Afonso Henriques, vieram à Península na passagem dos séculos XI para XII vários nobres franceses.

3.c. “palácio francisco” = “palácio francês”:
Na Carta de Doação da Ermida de Santa Comba, na margem esquerda do Corgo, de 24.abr.1138, emitida por Dom Afonso Henriques, é referido nas delimitações do couto um “palacio franscisco”, sendo que “francisco”, há data, significava francês. In Chancelaria de D. Afonso III, livro 2, f. 72 v.; Leitura Nova, livro 2, f. 260. / por PARENTE, João, Idade Média no Distrito de Vila Real, Tomo I, pág 112.

3.d. Guillon:
Em França, na região administrativa de Borgonha-Franco-Condado, existe uma comunna chamada Guillon (Guillon-Terre-Plaine).
Borgonha é a origem do Conde Dom Henrique, mais tarde Conde de Portucale, pai do rei Dom Afonso Henriques.

3.d.1: “Guillon é uma comuna francesa na região administrativa de Borgonha-Franco-Condado, no departamento de Yonne. Estende-se por uma área de 11,86 km². Em 2010 a comuna tinha 464 habitantes.”  in https://pt.wikipedia.org/wiki/Guillon, [r.21.jan.2021], Wikipédia, a enciclopédia livre.

3.d.2: “Guillon-Terre-Plaine é uma comuna da França, no departamento de Yonne. Foi instituído em 1 de janeiro de 2019 pela fusão das antigas comunas de Guillon (a sede), Cisery, Sceaux, Trévilly e Vignes.” in https://en.wikipedia.org/wiki/Guillon-Terre-Plaine, [r.21.jan.2021], Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Nota 4: Santa Marta
Marta, irmã de Lázaro e de Maria Madalena, três amigos de Jesus Cristo que viveram em Betânia, antiga Judeia, simboliza o trabalho e é representada iconograficamente como dona de casa diligente, sendo padroeira das donas de casa, com uma vassoura, uma concha de sopa, ou um molho de chaves na mão. O seu dia litúrgico celebra-se a 29 de Julho. O culto a Santa Marta liga-se a uma devoção anterior à Nacionalidade e bastante divulgado na Idade Média, sendo este culto um dos mais antigos na Península, sobretudo no norte de Portugal. 
in Net & in https://santamartadepenaguiao.wordpress.com/2011/03/29/hello-world/, [r.28.dez.2020]
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Nota 5: Santa Marta, hagiotopónimo (ou topónimo com o nome da Santa):
(O lugar de) Santa Marta, atual vila sede do Concelho de Santa Marta de Penaguião, aparece referenciada pela primeira vez em 27.set.1282, na Carta de Foro passada pelo Rei D. Dinis de um “herdamento (do Rei) que chamam Santa Marta do Julgado de Penagoyam”. In Chancelaria de D. Dinis, livro 1, f. 56 e 56 v. / por PARENTE, João, Idade Média no Distrito de Vila Real, Tomo II, pág 64.
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Nota 6: Capela de Santa Marta:
No Lugar do Alto, em Santa Marta de Penaguião, existe uma Capela dedicada a Santa Marta. Santa Marta é a padroeira da Região Demarcada do Douro, instituída com a criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro em 10 de Setembro de 1756 por alvará de D. José I. In IVDP, https://www.ivdp.pt/consumidor/historia. [c.23.jan.2021]
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Nota 7: Vitral da Casa do Douro 
[Santa Marta] "Protectora da Região Demarcada do Douro, o papel de ofício utilizado pelo provedor e deputados da Junta da Administração da Companhia-Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (criada por Pombal, e instituída por alvará régio de 10 de Setembro de 1756) utilizava o Selo ou, como se diria hoje, o Logotipo da Instituição com a efígie da Santa e no fundo uma videira com a seguinte inscrição latina: "Providentia Regitur", que quer dizer: a Divina Providência governa (ou rege) tudo.
Santa Marta encontra-se reproduzida em belo vitral no edifício da Casa do Douro, no Peso da Régua, pela mão do Pintor Lino António. Este foi acabado em 1945 e sintetiza toda a dinâmica e beleza desta região, tem uma área aproximada de 50 m² formando um tríptico. No painel do centro podemos ver três grandes figuras.
A figura do centro representa a Casa do Douro, e mostra um pergaminho onde se lê "...Casa do Douro, decreto 21 883, Novembro de 1932". Quer isto dizer, que o governo, através do referido decreto-lei, cria a Federação Sindical dos Viticultores da Região do Douro, em Novembro de 1932, hoje Casa do Douro.
A figura [feminina] da esquerda representa a agricultura tendo aos seus pés uma enxada de ganchos. E a figura [masculina] da direita simboliza o comércio e tem na mão um caduceu. As figuras de mãos dadas simbolizam o pacto de honra e cavalheiros, entre a produção e o comércio do Vinho do Douro.
Na parte superior esquerda, está a capela devota de Santa Marta, padroeira do Douro."
in https://santamartadepenaguiao.wordpress.com/2011/03/29/hello-world/, [r.28.dez.2020]
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ESTA LENDA É UMA ADAPTAÇÃO LIVRE DE VÁRIAS VERSÕES DA LENDA DE SANTA MARTA
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por Monteiro deQueiroz, [Adaptação & Estudo][dia 21, ano 21, séc. 21]

Imagem da Net 1 - Foto de Vitor Neves - Excerto do vitral, painel central, existente no edifício da Casa do Douro, Peso da Régua, do Pintor Lino António, onde se encontra relatada a lenda. Vitral de 1945

Imagem da Net 2 - Excerto do vitral, parte esquerda do painel central, existente no edifício da Casa do Douro, Peso da Régua, do Pintor Lino António, onde se encontra relatada a lenda. Vitral de 1945

Imagem da Net 3 - Excerto do vitral, parte direita do painel central, existente no edifício da Casa do Douro, Peso da Régua, do Pintor Lino António, onde se encontra relatada a lenda. Vitral de 1945
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LENDA DO VINHO II (Dionysus)


Mitologia

Há muitos milhares de anos um homem que passou a vida na Grécia, quando se sentiu velho regressou à sua pátria, a Itália, e resolveu levar com ele uma linda videirinha, pois não se lembrava de, na sua infância, ter visto tal planta na sua terra natal.

Como não tinha vaso para a transportar, utilizou o que tinha à mão, um osso de galo. Esvaziou-o e meteu dentro as raízes com um pouco de terra.

Ora como se deslocava a pé, levou muito tempo a fazer a viagem e a videira cresceu. Não teve outro remédio senão mudá-la para um osso de leão que encontrou pelo caminho. 

Mas como a planta continuasse a crescer, Dionísio, assim se chamava o viajante, que teve a sorte de deparar com um osso de burro, para lá mudou a plantinha.

Consta que daquela videira se fizeram muitas outras, e por ter ela crescido em tão estranhos “vasos”, quem bebe pouco vinho, fica alegre como o galo; quem bebe mais, fica forte como o leão, e quem muito abusa do vinho, perde as ideias e fica mesmo estúpido como um burro.
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in Isabel Preto, www.pt.slideshare.net, https://pt.slideshare.net/lamparina/lenda-do-vinho, [p.1.jun.2010]

Recolha de Monteiro deQueiroz, [r.20.jan.2021]
Imagem da NET - Estátua de Dionysus
Nota: Dioniso - Deus grego dos ciclos vitais, das festas, do vinho, da insânia, do teatro e dos ritos religiosos - Mitologia
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RIO DE MUITOS AMORES "A LENDA DA MOURA"


Rio Douro; Rio Mau; Pédemoura; Pedorido; 
Moura Morta.

Conta a lenda que um príncipe cristão se apaixonou por uma Moura o que era absolutamente impensável, naquele tempo. Foram proibidos de se ver e falar, mas o coração falou mais alto e resolveram fugir. 

Durante a noite, foi-lhes arranjado um barco a remos e lá foram rio Douro acima encobertos pela escuridão. Só as estrelas os iluminavam e o amor os conduzia. 

Passaram por várias aldeias ou lugares a que deram o nome de Rio Mau, por o rio estar agitado; Pédemoura, quando a moura precisou de ir a terra e escapulir-se pelos montes. Diz a lenda que o seu pé ficou marcado numa pedra; mais acima, já cansada de correr magoou-se num pé e deram a esse local o nome de Pedorido. 

Entretanto, ao ser descoberta a sua fuga, foram perseguidos e encontrados mas, infelizmente, a princesa morrera de exaustão. A esse local puseram o nome de Moura Morta. 

Estes lugares existem e a população conta a história da Moura, acreditando que foi verdadeira. _______________

in Tripadvisor, https://www.tripadvisor.pt/,
https://www.tripadvisor.pt/ShowUserReviews-g189180-d795766-r345343549-Douro_River-Porto_Porto_District_Northern_Portugal.html, [2015]

Recolha de Monteiro deQueiroz, [r.20.jan.2021]
Imagem da NET
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LENDA DO VINHO I (Dionysus)


Chaves


Conta a lenda que, há muitos anos atrás, um homem passou quase toda a sua vida fora do seu país e, quando se sentiu velho, decidiu regressar à terra natal. Resolveu levar com ele uma linda videirinha, pois não se lembrava de na sua infância ter ali visto tal planta.
Como não tinha vaso para a transportar, utilizou o que tinha à mão: um osso de galo. Meteu dentro do osso as raízes da planta com um pouco de terra. Como se deslocava a pé, demorou muito tempo a fazer a viagem e a videira cresceu. Então o homem mudou a videira para um osso de leão que encontrou pelo caminho. Mas como a viagem era longa, a videira continuava a crescer e qual foi a sua sorte quando encontrou um osso de burro e assim mudou mais uma vez a sua videirinha.
Consta que daquela videira se fizeram muitas outras videiras. Por ela ter crescido em tão estranhos vasos, quem bebe pouco vinho fica alegre como o galo; quem bebe mais, fica forte como um leão; e quem muito abusa do vinho, perde as ideias e fica mesmo estúpido como um burro.
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APL 1043 - [1]

Fonte: AA. VV., - Literatura Portuguesa de Tradição Oral, Projecto Vercial - Univ. Trás-os-Montes e Alto Douro, 2003, p.L13
Ano: 2000
Local de recolha: Chaves, Vila Real
Colector: Carla Luzio Monteiro (F)
Informante: José Monteiro (M)

in https://lendarium.org/en/apl/food/the-legend-of-wine/, [r.8.12.2021][1]

[1] Arquivo Português de Lendas (APL), base de dados do CEAO - Centro de Estudos Ataíde de Oliveira, da Universidade do Algarve (PTDC/ELT/65673/2006), em www.lendarium.org

Recolha de Monteiro deQueiroz, [r.20.jan.2021]
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LENDA PERSA DO NASCIMENTO DO VINHO II

Pérsia


Não existe uma história comprovada que marque a descoberta, ou a invenção do vinho. O que existem são mitos, fábulas e lendas. E elas são muitas, e muito interessantes! Na antiga Pérsia, onde hoje fica o Irã, existia um rei, ou um xá, chamado Jamsheed. De acordo com a lenda, Jamsheed, querendo consumir uvas durante o ano todo, mesmo fora da época da colheita, armazenou-as em um jarro. 
Quando o inverno chegou, ao abrir o jarro, ele encontrou as uvas partidas, e o suco que saía delas borbulhando, em processo de fermentação. 
Sem saber o que estava acontecendo, Jamsheed desconfiou que aquele conteúdo estivesse de alguma maneira enfeitiçado ou envenenado, e ordenou que ninguém o consumisse. 
Uma das mulheres do seu harém, contudo, ignorou a ordem, e bebeu aquele líquido. Ao que consta, ela estaria enferma, e buscava, talvez, o suicídio. 
O fato (ou a lenda) é que, ao beber, ela ficou sonolenta e adormeceu. Ao acordar, ela estava "milagrosamente" curada do mal do qual ela padecia. 
Diante da surpresa de todos, Jamsheed declarou aquela bebida, ou seja, o vinho, como um remédio sagrado, e ordenou que mais uvas passassem a ser armazenadas em jarro. 
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in Tintos & Tantos (tintosetantos.com),
http://www.tintosetantos.com/index.php/conhecendo/ahistoriadovinho/407-uma-lenda-sobre-a-invencao-do-vinho

Recolha de Monteiro deQueiroz, [r.19.jan.2021]
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LENDA PERSA DO NASCIMENTO DO VINHO I


Pérsia

Uma lenda bastante divulgada sobre a descoberta do vinho é uma versão Persa que fala do Rei Jamshid, um conto semimitológico. 

O Rei, querendo consumir uvas durante o ano todo, mesmo fora da época da colheita, armazenou-as em um jarro. 

Quando o inverno chegou, ao abrir encontrou as uvas partidas, e o suco que saía borbulhando, em fermentação. O rei pensou que as uvas tivessem produzido um veneno ou feitiço, mandou guardar os jarros ordenando que ninguém o consumisse. 

Uma de suas concubinas, que havia sido afastada de sua convivência, por ser tímida e quieta, pensou em se matar e decidiu usar o líquido para se suicidar. Logo, percebeu que, em vez de causar algum mal, a bebida lhe deu prazer, especialmente quando ela acariciava seu próprio corpo, tornando-a voluptuosa e desinibida. Ela, então, decidiu ir aos aposentos do rei e se oferecer para ele. 

Satisfeito com a noite de prazer, mas intrigado, o Rei foi averiguar e percebeu que o comportamento lascivo da moça era resultado da bebida. Pediu então uma taça e retomou seu momento de prazer. A partir daí, criou uma adega em seu palácio.
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in Portal das Missões, https://www.portaldasmissoes.com.br/noticias/view/id/1986/lenda-do-vinho.html, [p.05.mai.2019]

Recolha de Monteiro deQueiroz, [r.19.jan.2021]

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LENDA DO RIO DOURO


Douro


Como muitos outros rios também o Rio Douro anda envolvido num episódio lendário. E diz-se que, no momento da criação, quando Deus procedeu ao lançamento dos rios pela terra, com a determinação do dia em que dariam início à marcha para o destino comum - o mar -, o Douro se deixara adormecer. Assim, não pôde partir na hora aprazada pois só lembrara a prescrição ao acordar do seu sono pesado.

Com a maior surpresa, ainda estremunhado, o Douro pôde ver que os outros rios já serpenteavam nos vales, cortando serras e dividindo montes, em cumprimento dos propósitos fixados por Deus para seu fadário. Face ao seu descuido, passado o momento da estupefacção, cobrou ânimo e pensou na maneira de levar a cabo a recuperação. Então, para ganhar o que perdera com o seu descanso, empreendeu uma corrida difícil, mas decidida e corajosa, descendo fragas, atravessando montanhas, partindo rochas, galgando penedias, até que atingiu o oceano atlântico muito antes dos outros, apesar destes terem saído mais cedo, mas que preferiram escolher um trajecto com terrenos mais suaves. 
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Fonte Biblio: VALLE, Carlos, Revista de Etnografia 26, Tradições Populares de Vila Nova de Gaia - Narrações Lendárias Porto, Junta Distrital do Porto, 1969 , p.422
in Pico da Vigia 2, https://picodavigia2.blogs.sapo.pt/147038.html, [29.out.2013]

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A HISTÓRIA DO VINHO DO PORTO


Douro


Diz a lenda que, após se desentenderem comercialmente com os franceses e tendo passado a ancorar na cidade do Porto, navegadores ingleses começaram a comprar vinhos locais, que, na época, eram secos. Entretanto, por conta da duração da viagem de volta ao seu país, esses vinhos frequentemente oxidavam, fazendo com que fosse necessário encontrar um meio para melhor conservar a bebida. Foi então que dois irmãos teriam resolvido adicionar aguardente ao vinho, que passou a suportar o período da travessia. Em um determinado ano, a concentração de açúcar das uvas foi bastante elevada e o vinho produzido contava com um considerável teor de açúcar residual. Naquele ano, a adição de aguardente acabou resultando em um vinho agradável aos seus paladares e, com isso, teria surgido a ideia de se adicionar álcool durante o processo de fermentação, provocando a interrupção do processo e a consequente manutenção da doçura da bebida. Assim nascia o vinho do Porto.

De fato, desde o princípio, os britânicos foram os maiores consumidores dessa bebida. Tanto é assim que, em 1703, Portugal e Inglaterra chegaram a assinar um acordo – o “Tratado de Metheun” – determinando que os ingleses dariam preferência ao vinho português em relação ao francês. É bem verdade que em meados do século XVIII, as exportações de vinho do Porto tiveram um período de crise por conta de adulterações, situação resolvida a partir da criação da “Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro”, em 1756, órgão que conseguiu reestabelecer a qualidade do produto. Já no ano seguinte, Marquês de Pombal determinou a delimitação das principais áreas vitivinícolas do Vale do Douro. Dessa forma, o vinho do Porto – com essa denominação – somente pode ser produzido na Região Demarcada do Douro.
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in Adega, por Eduardo Milan,
https://revistaadega.uol.com.br/artigo/historia-do-vinho-do-porto_11853.html, [7.ago.2019]

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LENDA DO VINHO DO PORTO NEWMAN'S II


Douro


Conta-se que, algures no século 17, um barco, carregado de pipas com vinho do Porto, partiu do norte de Portugal, como era normal, em direção ao também usual destino, Inglaterra. 

Quando passava perto da costa francesa foi atacado por piratas. O comandante do barco português foi tão hábil que conseguiu escapar ao ataque dos corsários franceses. 

Só que fez um desvio de tal forma grande que os ventos acabaram por arrastá-lo muito mais para oeste do que desejava. 

Afastou-se totalmente de Inglaterra e, sem querer, foi dar à Terra Nova, onde é atualmente o Canadá. 

Aportou em Saint John’s, Newfound Land (Labrador), e por lá ficou todo o inverno à espera que o mar revolto e invernoso acalmasse para voltar à Europa. 

Com o navio e com a tripulação, também ficaram as pipas cheias de “vinho do Porto” no frio ambiente do Canadá. 

Chegada a Primavera, o capitão fez-se ao mar e rumou a Inglaterra, o seu destino inicial, muitos meses antes. 

Sucede que, em Inglaterra, quem provou este vinho do Porto – repousado em terras canadianas durante todo o inverno – afirmou que o seu sabor estava muito melhor do que todos os anteriores. 

Então, a família que produzia este vinho – os Newman – resolveu, a partir daquele momento, amadurecê-lo no Canadá, durante os meses de inverno. 

Verdade, mentira, lenda ou mito, existe uma cave em Saint John’s, no Canadá, onde se diz que o vinho do Porto Newman repousava, durante o frio inverno canadiano, para depois ser comercializado em Inglaterra. 

E pronto... para além do bacalhau ligar Portugal à Terra Nova, o vinho do Porto desta marca parece que também :) 
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in
Rádio FM, www.rfm.sapo.pt,
https://rfm.sapo.pt/content/4327/e-a-lenda-do-vinho-do-porto-conheces

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