LENDA DO GIGANTE DO MARÃO


[1] 

Trago-vos uma lenda que encontrei a ler um livro - uma complicação de histórias - chamado “Vila Real História ao Café”. Nunca das páginas encontrei uma referência a esta lenda, a “Lenda do Gigante do Marão”.

Fiz uma pesquisa rápida pela internet, a ver se encontrava mais alguma referência à lenda. E encontrei algumas.

Passo então a contar a história pelas minhas palavras:

Outrora surgiu um gigante na Serra do Marão, que assombrava os moradores da aldeia, principalmente os pastores - o gigante comia os animais de uma só vez. As pessoas da aldeia quase nunca saíam porque tinham medo do gigante. O gigante tinha uma cabeça grande a achatada e tinha um olho enorme no meio da testa. Usava uma barba muito muito longa.

Certo dia, um dos pastores de uma aldeia das montanhas do Marão - a aldeia de Fraldas, resolveu enfrentar o gigante. Muitos foram os que o tentaram desencorajar, mas o pastor não se demoveu do seu objetivo e seguiu pelas montanhas. Não foi preciso andar muito, o gigante não se tardou a aparecer assim que sentiu a presença das ovelhas.

- Tiveste a coragem de me enfrentar, pastor. Ainda bem que o fizeste, ainda não comi hoje e já tenho a barriga a dar voltas - gritou-lhe o gigante do Marão.

O pastor ao ouvir tal coisa, reagiu de imediato:
- Não tenho medo nenhum de ti, monstro. De hoje não passas!
- Maldito, mostra lá então do que és capaz!

Então o pastor resolveu retirar do seu bolso um pedaço de queijo de cabra, mostrando-o ao gigante:
- Vês isto? Este seixo que aqui tenho? - interrogou o pastor, enquanto o espremia com a mão, até sair um líquido amarelo (natural do queijo fresco). O gigante nem queria acreditar.
- Tenta fazer o mesmo - desafiou-o o pastor.

O gigante, incrédulo com o que tinha acabado de ver, pegou de imediato numa pedra e começou a espremê-la com toda a força. Nada aconteceu. Pegou noutra e nada aconteceu. E outra, e outra. Desesperado, acabou por desistir.

- E agora, já tens noção do que eu sou capaz de te fazer? - troçou o pastor.
Agora vamos ver quem atira uma pedra mais longe.

O gigante do Marão foi o primeiro a pegar numa pedra. Atirou-a o mais longe que conseguiu. E foi tão bem sucedido que a pedra foi parar a outra montanha. Satisfeito com o que acabara de fazer, o gigante disse a sorrir:
- Agora é a tua vez, anda lá!

O pastor, mais esperto do que o gigante, tirou de um bolso um pardal e largou-o. O pardal voou para bem longe, tão rápido que foi impossível acompanharem-lhe a viagem.

O gigante, embora espantado, aceitou um desafio do pastor:
- Estás a ver aquele pinheiro? - perguntou, apontando para o pinheiro mais grosso à sua frente – Vamos então ver quem o consegue dobrar.

O gigante aproximou-se do pinheiro e dobrou o pinheiro com toda a sua força. Conseguiu dobrar o pinheiro até que este tocasse no chão. Ao vê-lo, o pastor aproximou-se e disse-lhe:
- Muito bem, agora é a minha vez. Tira as mãos daí.

Sem pensar nas consequências, o gigante assim fez: tirou as mãos do pinheiro e este voltou à sua posição, batendo-lhe com tanta força na cabeça, que o deixou esticado no chão. O pastor correu dali para fora com as suas ovelhas. No seu pensamento surgia “dever cumprido”.

Ao atravessar as montanhas, deu com um grupo de mulheres que lavavam tripas de porco. Aproximou-se delas e fez-lhes um pedido:
- Quando o gigante passar por aqui à minha procura, dizei-lhe que essas são as minhas tripas. Dizei-lhe que eu hei-de voltar para as meter de novo dentro de mim.

O pastor seguiu viagem e o gigante do Marão não se tardou a chegar, embora ainda abananado. Quando perguntou pelo pastor às mulheres, recebeu a mensagem que o pastor lhes tinha deixado.

Ao ouvir o recado, o gigante quis aceitar aquilo como um desafio “Se ele tirou as tripas, então eu também as tiro” E então, com a faca de matar os porcos, abriu a barriga.

E foi esta a sua última ação. Depois disto, o pastor foi glorificado por tamanha coragem e esperteza.

Esta versão da lenda do gigante do Marão foi inspirada na versão que encontrei neste blog [Grandes historiadores de Vila Real - http://grandeshistoriadoresdevilareal.blogspot.com]
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[2] 

Noutros tempos aparecia na serra do Marão um gigante que atemorizava os habitantes das aldeias, especialmente os pastores, pois alimentava-se com os animais que lhe roubava, os quais abocanhava e comia duma só dentada, como se de um simples “papo seco” se tratasse. As pessoas evitavam afastar-se para longe dos seus povoados, pois a própria figura do gigante metia medo: a cabeça era grande e achatada, e na testa, bem ao meio, tinha apenas um olho, um olho enorme, bugalhudo, que avistava tudo a grande distância. As guedelhas e as barbas eram longas e desajeitadas. Mais pareciam silvados.
Um dia, um pastor de uma aldeiazinha das fraldas da serra com apenas 1500m2 de área, tido como pessoa que usava mais miolos que a força, resolveu dar uma lição ao gigante e acabar com a ameaça que a sua presença representava para todos. Vai daí, pegou no rebanho e meteu-se ao caminho, serra acima, sem dar ouvidos a quantos lhe desaconselhavam a aventura - ou não fosse ele o homem pequeno e raquítico de aspecto, a contrastar com o “trambolho” que o esperava.
E sem precisar de andar muito, lá lhe apareceu o gigante, pronto a fazer um banquete com as ovelhas.
- Com que então resolveste vir ter comigo!... Ainda bem, pois estou em jejum e já tenho a barriga a roncar! - disse o gigante.
- Pois olha que eu não tenho medo de ti! Sou até capaz de te vencer! - reagiu o pastor.
- O quê?! Ora mostra lá o que és capaz de fazer!
O pastor tirou do bolso um bocado de queijo de cabra fresco, e disse:
- Estás a ver este seixo? Pois olha o que eu faço com ele! - E começou a espremê-lo com a mão, fazendo sair um líquido amarelado, que mais não era que o soro do queijo, o que deixou o gigante boquiaberto. - Agora vê lá tu se és capaz de fazer o mesmo!
O gigante arrancou uma fraga do chão, espremeu-a com quanta força tinha, e ... nada. Depois pegou em outra e foi o mesmo. Até que desistiu.
- Ainda não acreditas que sou mais forte do que tu? - perguntou o pastor.
- Então vamos ver agora quem é capaz de atirar uma pedra mais longe. Podes ser tu o primeiro.
O gigante pegou numa pedra enorme e lançou-a para tão longe que acabou por ir cair noutra montanha. E, todo satisfeito, já a cantar vitória, diz para o rival:
- Vá lá, faz agora tu o mesmo!
- Faço, sim senhor!
O pastor meteu a mão ao bolso, onde trazia um pardal, e soltou-o no mesmo instante. O pássaro, farto de estar cativo, voou como uma seta, e para tão longe que nem o pastor nem o gigante o conseguiram alcançar com a vista.
Espantado com tamanha habilidade, o gigante ainda assim se aprontou para aceitar um desafio que o pastor lhe lançou:
- Vês ali aquele pinheiro? - perguntou, apontando para um que era o mais grosso de todos. - Ora vamos lá ver quem é, dos dois, que o consegue dobrar!
O gigante nem hesitou, convencido de que aquilo era, sem qualquer dúvida, uma proeza que só ele poderia realizar. Deitou as mãos ao tronco do pinheiro e, auxiliado com o peso do próprio corpo, fez quanta força pôde até que dobrou, ao ponto de a ramagem tocar no chão. E foi nesse momento que o pastor o interrompeu, dizendo-lhe:
- Tira agora daí as mãos, que o quero dobrar eu!
O gigante abriu as mãos e o resultado não podia ser outro: o pinheiro soltou-se e foi desferir-lhe tamanha cacetada na cabeça que o deixou a ver estrelas, ficando estendido no chão, atordoado e sem forças para se mexer.
O pastor, que considerou cumprida a sua missão, tratou de fugir, com as ovelhas, e com a rapidez que podia. Um pouco mais baixo, teve de atravessar uma ribeira onde encontrou várias mulheres a lavar as tripas de um porco para o fumeiro. E pediu-lhes:
- Se o gigante aqui passar, e perguntar por mim, dizei-lhe que eu passei a correr e que, para ir mais leve e correr mais, deixei ficar as tripas, essas que estais aí a lavar. E dizei-lhe também que, quando estiverem vazias e limpas, eu volto a passar aqui para as meter outra vez na barriga.
E, dito o recado, continuou o caminho. Daí a pouco, chegou o gigante, ainda meio atordoado, e perguntou pelo pastor. Como resposta, recebeu o recado que o pastor deixou. Perante tal resposta, o gigante não perdeu tempo a pensar. Apenas o mínimo: “Se o pastor tirou as tripas para ir mais leve, porque não hei-de eu fazer também o mesmo? 
Afinal, as minhas sempre pesam mais!...”. E, se depressa pensou, mais depressa o fez. Pegou na faca de matar os porcos e espetou-a na própria barriga. E dali já não saiu mais. A serra do Marão livrou-se de tão incómoda criatura, e o pastor foi glorificado pela sua esperteza.

Lenda adaptada por Alexandre Parafita
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[1] A “Lenda do Gigante do Marão”, 
Andreia Carvalho da Silva,
in Transmontanitos,
https://transmontanitos.pt/a-lenda-do-gigante-do-marao/ [r.26.dez.2020]

[2] A lenda do gigante Marão
in Grandes Historiadores de Vila Real,
publicada em 22.mai.2007,
http://grandeshistoriadoresdevilareal.blogspot.com/2007/05/lenda-do-gigante-do-maro.html, [r.26.dez.2020]
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LENDAS DE TERRAS DE PENAGUIÃO
[de subtus monte Pena Guian]
COLECTÂNIA - RECOLHA

[Algures, nas fraldas da Serra do Marão]

Textos, Estudos, Recolhas & Contributos…
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PENAGUIÃO

Eduardo José Monteiro deQueiroz
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